Centenas de famílias inscritas no programa Minha Casa, Minha Vida, em Belém do Pará, convivem com um sentimento de frustração e indignação. Desde 2016, aguardam a entrega dos imóveis nos conjuntos Viver Melhor I e II, no bairro do Tapanã. Mais de uma década depois, as unidades permanecem inacabadas, com sérios problemas estruturais. Agora, esses mesmos imóveis, originalmente destinados a famílias de baixa renda, estão sendo considerados como alojamentos temporários para participantes da COP30, a conferência climática da ONU marcada para novembro de 2025.
De acordo com a Folha de S.Paulo, o governo federal avalia a possibilidade de utilizar os apartamentos como hospedagem alternativa, diante da expectativa de receber cerca de 50 mil visitantes para o evento. A proposta causou indignação entre os beneficiários, que há anos aguardam respostas e promessas não cumpridas sobre a entrega das unidades.
As construções apresentam deterioração visível: há relatos de infiltrações, mofo, pisos danificados, ausência de instalações elétricas e hidráulicas e blocos com estruturas comprometidas. Parte dos prédios foi depredada devido ao abandono prolongado, agravando ainda mais o cenário.

“Minha casa foi prometida há oito anos. Agora querem dar para turista dormir uma semana? E a gente segue pagando aluguel”, reclama Ana Paula Souza, diarista e mãe solo.
Enquanto o governo acelera reformas em áreas centrais de Belém para a COP30, como mercados, avenidas e pontos turísticos, bairros periféricos como o Tapanã seguem à margem, sem infraestrutura e sem previsão de melhorias.
Segundo o Ministério das Cidades, 256 apartamentos distribuídos em 16 blocos estão em fase de acabamento, com colocação de cerâmica e ajustes finais, e devem ficar prontos até outubro de 2025. As unidades poderiam ser utilizadas durante a conferência para ampliar a capacidade de hospedagem da capital, que hoje conta com cerca de 24 mil leitos, diante da previsão de 50 mil visitantes.
A possível destinação dos imóveis, no entanto, causou revolta entre os futuros moradores, que seguem em situação de vulnerabilidade, pagando aluguel ou vivendo de favor, enquanto aguardam pelas moradias prometidas.
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