O levantamento mostrou também que os mais pobres terão que esperar mais de uma década
A pesquisa O Vírus da Desigualdade, realizada pela Oxfam Brasil, e lançada nesta segunda-feira (25), na abertura do Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, na Suíça, mostra que as 1.000 pessoas mais ricas do mundo recuperaram toda sua perda durante a pandemia em tempo recorde. De acordo com o levantamento, em fevereiro de 2020, os mais ricos contavam com 100% de sua fortuna, em março, no início da pandemia, caiu para 70,3% e, em novembro de 2020, voltaram ao patamar de 100%. Em termos comparativos, o levantamento mostra que, após a crise de 2008, os mais ricos levaram cinco anos para recuperarem suas fortunas.
Para a cientista política, especialista em cultura afro-brasileira e comunicação política, Juliana Silva, o motivo que leva essas pessoas a reaverem suas fortunas em tão pouco tempo é a detenção do capital. “Eles são os donos do capital e repassam os ônus para a massa trabalhadora. Resultado disso é o aumento do índice de desemprego, o que faz a classe mais pobre ficar ainda mais pobre”, afirma.
Ainda segundo ela, a falta de políticas afirmativas para a recuperação econômica tem dificultado a vida do trabalhador de classe mais baixa. “O desemprego está em alta, com a saída de multinacionais do Brasil isso tende a piorar. A recuperação dos mais ricos acontece em cima do massacre dos mais pobres. Redução de salários, redução de vagas de emprego e isso tudo acontece quando os preços estão em alta. Resultado disso é a pobreza aumentando. E quem é mais atingido? Pessoas negras, já que estas estão nas classes mais pobres”, disse.
Números
Entre março de 2020 e 31 de dezembro do mesmo ano, os bilionários acumularam U$ 3,9 trilhões em todo o planeta, totalizando U$ 11,95 trilhões. Este valor, segundo o relatório, é equivalente ao utilizado pelo G20, grupo com os 20 países mais ricos do mundo, para enfrentar a pandemia. Além disso, só os 10 mais ricos do planeta, acumularam U$ 540 bilhões somente neste período. Para Juliana, os ricos ficando mais ricos só escancara a desigualdade social e divisão de renda. “Não tivemos medida nenhuma de combate à desigualdade social durante a pandemia. Os mais pobre ficaram e ainda estão mais vulneráveis”, ressaltou.
O outro lado da moeda
Por outro lado, O Vírus da Desigualdade mostrou também que os mais pobres vão levar 14 anos para recompor suas vidas, devido aos impactos econômicos nas suas vidas. Para Juliana Silva, a falta de ação governamental, coloca o Brasil cada vez mais no mapa da fome e da miséria. “Se nenhuma política pública afirmativa for criada para a recuperação econômica dos mais pobres, a miséria tende a aumentar, assim como as desigualdades”. Além disso, Juliana ressaltou também que algumas medidas tomadas no ano passado foram eficientes, mas extintas. “As pessoas estão desempregadas. Precisam suprir as necessidades básicas. O auxílio emergencial também pode ajudar a não aumentar a violência. Um país na miséria, sem empregos, tende a aumentar o índice de criminalidade”, finaliza.
A pandemia no Brasil
A diretora executiva da Oxfam no Brasil, Katia Maia, afirma que a pandemia escancarou as desigualdades, no Brasil e no mundo. “É revoltante ver um pequeno grupo de privilegiados acumular tanto em meio a uma das piores crises globais já ocorridas na história. Enquanto os super ricos lucram, os mais pobres perdem empregos e renda, ficando à mercê da miséria e da fome”, relata.
A ONG ainda revela que, no Brasil, as pessoas negras têm 40% mais chance de morrer de Covid-19 do que os brancos. “A pandemia tem o potencial de aumentar a desigualdade econômica em praticamente todos os países do mundo ao mesmo tempo. A desigualdade está ceifando vidas”.
O material completo, com todos os dados disponibilizados pela Oxfam Brasil está no link https://d335luupugsy2.cloudfront.net/cms%2Ffiles%2F115321%2F1611531366bp-the-inequality-virus-110122_PT_Final_ordenado.pdf