O projeto “Xica: História e Memória da Primeira Travesti do Brasil em HQ”, em Pernambuco, resgata a trajetória de Xica Manicongo, mulher negra trazida do Congo no contexto da escravidão em1591 e reconhecida pelo movimento transfeminista como a primeira travesti não indígena do Brasil. O lançamento acontece na próxima sexta-feira (23), no Museu MUAFRO localizado no Recife.
Voltado ao público infantojuvenil, o trabalho se concretiza através da publicação e distribuição gratuita da HQ Xica em formato físico, com suplemento didático e recurso de acessibilidade em áudio para escolas públicas de 10 cidades das quatro macrorregiões de Pernambuco. Além disso, a ação inclui formações pedagógicas com docentes promovendo o uso da obra como ferramenta didática.

Presente no imaginário popular brasileiro a ideia de que pessoas trans e travestis não existiam no passado é um ato de apagamento que rompe com a ancestralidade e silencia histórias que sempre estiveram presentes — vivas e potentes. Nesse sentido, o projeto propõe não apenas contar a história de Xica, mas reafirmar que travestis e pessoas trans fazem parte da nossa memória, da nossa cultura e da nossa luta, que pessoas negras têm uma história de potência e legado cultural para além de uma trajetória limitada às narrativas escravistas.
Além disso, o projeto propõe no trato de seu suplemento didático uma abordagem das fontes a partir de uma perspectiva decolonial que prioriza autoras e autores que concebem o gênero e a sexualidade a partir de referenciais pré coloniais em África e no Brasil, que evidenciam a representatividade dessas identidades no enfrentamento ao racismo e transfobia disseminados pela colonização que seguem vivos em nossa sociedade como sequelas das feridas da colonialidade refletidas também no espaço escolar.
Fazem parte do projeto as educadoras e pesquisadoras Jaqueline Gomes de Jesus e Megg Rayara de Oliveira, além de contar com áudioos narrados pela multiartista Renna Costa. Mas a iniciativa é fruto da inquietação de mestrado da pesquisadora e professora Millena Valença, que assina o suplemento didático e idealiza o projeto, e as ilustrações e roteiro assinados pela quadrinista e ilustradora Jocosa Aguiar.
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