A Beija-Flor de Nilópolis escolheu como enredo para o Carnaval 2026, nesta segunda-feira (14), o Bembé do Mercado, maior Candomblé de rua do mundo, celebrado há 136 anos em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano. A agremiação da Baixada Fluminense conquistou o título deste ano na Marquês de Sapucaí, e busca o bicampeonato.
O enredo, anunciado no mesmo dia que a diretoria da escola desembarcou na cidade para uma imersão cultural, contará na avenida, a história de uma das mais importantes manifestações de resistência e fé do povo preto no Brasil.
“Para nós, é um orgulho contar mais uma história de protagonismo e resistência preta na Sapucaí. É a nossa identidade, está no nosso DNA, e é como a comunidade nilopolitana se vê. O Bembé e a Beija-Flor têm muito em comum, e estamos muito felizes e honrados em apresentar essa cerimônia tão valiosa para todo o Brasil”, afirmou Almir Reis, o presidente da escola.

A pesquisa para o enredo será conduzida por Guilherme Niegro, Vivian Pereira e Bruno Laurato, e a direção de carnaval segue com Marco Antônio Marino, e será desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo, que assina seu terceiro desfile pela agremiação. “O Bembé do Mercado é de uma potência simbólica e estética imensa. É um enredo que nos atravessa, que nos conecta com a ancestralidade e com a luta do povo preto no Brasil. Ter a chance de criar um enredo autoral como esse, com tamanha relevância histórica e espiritual, é um presente. É uma responsabilidade enorme, mas também uma felicidade imensa”, destacou o artista.
A homenagem feita pela escola é bem vista pela comunidade da cidade, segundo o relato do Pai Pote, babalorixá do Ilê Axé Ojú Onirê, guardião e presidente da Associação Beneficente Bembé do Mercado.
“A escolha da Beija-Flor é um marco. Levar o Bembé para a Sapucaí é dar visibilidade a uma tradição que há mais de um século reafirma a força do povo preto e de santo nas ruas. Essa visibilidade fortalece nossa luta, amplia nosso alcance e ajuda a combater o preconceito com informação, beleza e ancestralidade. É sobre memória, resistência e orgulho. O Bembé é do povo, é sagrado, e agora será visto, sentido e celebrado por milhões”.
Conheça o Bembé do Mercado
Realizado desde 1889, um ano após a abolição da escravidão no país, o Bembé do Mercado reúne mais de 60 terreiros de matriz africana e promove, em praça pública, uma extensa programação cultural ao longo de cinco dias.
O ponto alto da celebração é o xirê, seguido pelo cortejo e pela entrega de presentes às orixás Iemanjá e Oxum, em agradecimento à liberdade conquistada após a assinatura da Lei Áurea. Reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia (2012) e do Brasil (2019), a celebração atualmente pleiteia o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.
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