As favelas concentram mais templos religiosos do que outras áreas urbanas em grande parte das cidades brasileiras, é o que revela um levantamento realizado pelo Observatório da Religião e Interseccionalidades do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), com base no Censo 2022. O estudo cruzou informações sobre geografia religiosa e áreas de favelas e comunidades urbanas.
Entre os municípios brasileiros analisados, 19 estados e o Distrito Federal possuem maior proporção de templos religiosos dentro das favelas em comparação com áreas externas. Porto Alegre (RS) lidera o ranking nacional, com um número de estabelecimentos religiosos 116% maior nas favelas do que fora delas. Em São Paulo, 16% dos templos religiosos estão em favelas, alinhado ao percentual de moradores dessas áreas na capital paulista, que é de 15%.
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Maioria dos moradores de favelas são negros
Dados do IBGE indicam que as favelas concentram grande parte da população negra no Brasil. Segundo o último Censo, mais de 70% dos moradores dessas comunidades se autodeclaram pretos ou pardos. Além disso, são territórios marcados por condições socioeconômicas precárias: a maior parte das famílias vive com renda média abaixo de dois salários mínimos, o que reforça o impacto das desigualdades raciais e sociais na conformação dessas áreas.
No total, o Brasil possui 585 municípios com favelas e estabelecimentos religiosos identificados. Entre as capitais, Porto Alegre e Florianópolis aparecem no topo da lista com maior densidade de templos em favelas. Em Porto Alegre, 24,6% dos locais de culto estão nessas áreas, embora apenas 13% da população da cidade viva em favelas.
Crescimento de templos evangélicos
Embora o Censo não detalhe as denominações religiosas de cada templo, outros estudos indicam a predominância de igrejas evangélicas em comunidades urbanas. Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, entre 1998 e 2021, a presença de igrejas evangélicas no Brasil cresceu 228,5%. Em 2021, sete em cada dez templos religiosos no país eram evangélicos, enquanto os católicos representavam 11%.
Pesquisas locais apontam que a maioria das igrejas evangélicas em áreas periféricas é de pequeno porte, com capacidade para até 200 pessoas, e atendem principalmente mulheres negras e famílias de baixa renda.
Distribuição regional
Além de Porto Alegre e São Paulo, outras capitais também se destacam pela alta densidade de templos religiosos em favelas. Florianópolis (SC) aparece em segundo lugar no ranking, seguida por cidades de médio porte em diferentes regiões do país. Já entre os estados que fogem à regra, com menor proporção de templos em áreas vulneráveis, estão Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Amazonas, Pará, Ceará e Acre.
Dados gerais
A pesquisa do Cebrap reforça a relação entre a geografia religiosa e as desigualdades sociais e raciais no Brasil. Os dados revelam que, enquanto as favelas concentram uma população majoritariamente negra e de baixa renda, elas também se tornaram polos de expansão de templos religiosos, especialmente evangélicos, nos últimos anos.