Um relatório da Polícia Federal (PF), tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revela que o ex-presidente Jair Bolsonaro teve participação ativa e plena consciência em uma trama golpista para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023. O documento detalha uma complexa conspiração que envolvia militares, ex-ministros e aliados, cujo objetivo era abolir a democracia no Brasil. Segundo as investigações, o plano incluía ações extremas, como o assassinato de Lula, do vice Geraldo Alckmin e do próprio Alexandre de Moraes, além de uma estratégia de fuga internacional caso o golpe falhasse.
O relatório acusa Bolsonaro de liderar o movimento, que contava com seis núcleos organizados para a ruptura institucional. Mensagens interceptadas mostram militares comparando a tentativa golpista de 2022 ao golpe de 1964, expressando frustração pela falta de adesão da alta cúpula das Forças Armadas. “Fomos covardes”, lamentou um tenente-coronel em mensagens internas. Apesar de pressões internas, os comandantes do Exército e da Aeronáutica se mantiveram fiéis ao Estado Democrático, impedindo a concretização do plano.
A conspiração era meticulosamente detalhada. A PF identificou etapas como o armazenamento de armas em cofres prontos para uso imediato, a ocupação de infraestruturas estratégicas para intimidar autoridades e a criação de uma rede logística para a fuga de Bolsonaro. Esse plano foi adaptado em 2022, após anos de ataques ao STF e ao sistema eleitoral. Em 30 de dezembro daquele ano, Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu por três meses, aguardando os desdobramentos dos atos golpistas de 8 de janeiro.
A tentativa de golpe, contudo, esbarrou na resistência do Alto Comando militar e na ausência de suporte armado. Segundo a PF, as ações fracassaram não pela falta de intenção ou planejamento, mas por fatores externos à vontade de Bolsonaro. O relatório aponta que a manutenção da democracia dependeu da postura ética e institucional de militares-chave.
Agora, o caso está nas mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR), que avaliará se apresentará denúncia contra Bolsonaro e os outros 36 indiciados. As acusações incluem organização criminosa e tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito. O documento torna inquestionável o envolvimento direto do ex-presidente e lança luz sobre uma das crises mais graves da história recente do Brasil.