A exposição “Raízes: Começo, Meio e Começo” faz parte do circuito turístico de Salvador, Bahia, em cartaz no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira. A exposição é dividida em cinco eixos temáticos: Origens, Sagrado, Ruas, Afrofuturismo e Bembé do Mercado. São mais de 200 obras reunidas assinadas por mais de 80 artistas afrodescendentes.
Uma delas são pinturas do sambista Heitor dos Prazeres (Rio de Janeiro, 1898-1966), além de esculturas do museólogo Emanoel Araújo (Bahia, 1940-2022) e retratos da fotógrafa carioca Lita Cerqueira. Além de criações de artistas da Angola, Senegal, Guiné e Congo que reverberam as tecnologias originárias das matrizes africanas fundamentais, para a construção identitária do Brasil.
A exposição tem a proposta de refletir sobre a possibilidade de subverter a lógica do tempo, pois, para a filosofia e as cosmovisões africanas, ele é recorrente, sagrado e infinito, assim como a representação horizontal do algarismo “8”, que é o resultado da soma dos números que formam o ano de 2024. Com isso, podemos nos voltar a ações determinadas, como retornar às origens.
Dar tempo ao tempo
Na cultura iorubá, introduzida no Brasil pelos povos originários da Nigéria, do Daomé e do Togo, a temporalidade é recorrente, com eventos e padrões que se repetem e renovam, distante da linearidade ocidental irreversível do início, meio e fim. Ciclos naturais, como colheitas agrícolas, também marcam o tempo, conectando o presente e o futuro com o passado, explicando a importância da sabedoria ancestral.
“‘Raízes: Começo, Meio e Começo’ entrelaça a circularidade do tempo, refletindo sobre tecnologias ancestrais. Presente, futuro e passado formam as raízes de um grande baobá. A diáspora afro-brasileira é uma ramificação dessa raiz ancestral”, explica a curadora Jamile Coelho, também diretora do Muncab.
Os símbolos Adinkra dos povos akan, entre a Costa do Marfim e Gana, capturam a atemporalidade do projeto expográfico da cenógrafa Gisele de Paula e da identidade visual do urbanista M.Dias Preto. Sankofa, representado por um pássaro com a cabeça para trás, traduz que nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou no passado.
Tecnologias ancestrais
O “itã”, contos na linguagem iorubá, diz que as raízes da árvore “Iroko” são tão profundas que atravessaram o oceano rumo às Américas. “’Raízes: Começo, Meio e Começo’ é uma jornada imersiva para contemplar esse berço civilizatório sob a perspectiva das manifestações artísticas, rituais religiosos e modo de organização social e política, transmitidos entre gerações”, acrescenta Jil Soares, co-curador.
O núcleo “Origens” simboliza o encontro entre as culturas dos continentes africano e americano, guiando o público pela travessia identitária das águas oceânicas. O território “Sagrado” aprofunda as tradições espirituais, celebrando a força dos espíritos através de artefatos, músicas e danças.
O espaço “Ruas” abraça o “pretuguês”, neologismo que define o universo cultural enraizado nas matrizes africanas. O ambiente “Afrofuturismo” promove o encontro entre ficção científica, tecnologia, realismo fantástico e mitologia, para retratar a vida plena da população negra. O eixo “Bembé do Mercado” registra os patrimônios culturais imateriais expressos na musicalidade, língua, versos, sotaques e saberes sociais.
“Raízes: Começo, Meio e Começo” também reverencia o princípio dinâmico de Exu, o orixá regente de 2024. A exposição é uma produção do Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira em parceria com a RCD Produção de Arte com apoio do Instituto Ibirapitanga.
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