As Olimpíadas de Paris começam nesta sexta-feira (26), e entre a contagem regressiva e a preparação, uma questão ainda aflinge as atletas francesas de origem muçulmana: elas não poderão competir de hijab (véu) durante os jogos. Em setembro do ano passado, a ministra de Esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra, proibiu atletas e membros das comissões técnicas do país de usarem símbolos religiosos durante os Jogos Olímpicos.
Ativistas da Aliança Sport & Rights – cujos parceiros incluem a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, enviaram uma carta ao Comitê Olímpico Internacional (COI) , solicitando o fim da proibição. Segundo o grupo, a medida deixa os atletas muçulmanos “excluídos e humilhados”. A Anistia destacou que a medida é um caso de “violação dos direitos humanos.
No relatório, intitulado “Já não podemos respirar. Até os desportos, já não os podemos praticar” a Amnistia denuncia o que constitui uma violação do direito internacional em matéria de direitos humanos e expõe a ação discriminatória das autoridades francesas e o fraco empenho do Comité Olímpico Internacional.
“As regras discriminatórias que controlam o que as mulheres vestem são uma violação dos direitos humanos das mulheres e raparigas muçulmanas e têm um impacto devastador na sua participação no desporto, bloqueando os esforços para tornar a prática desportiva mais inclusiva e acessível”, critica a investigadora dos direitos das mulheres da Amnistia Internacional na Europa, Anna Błuś.
A Anistia Internacional destaca que, apesar das repetidas exigências, o Comitê Olímpico Internacional (COI) se recusou a solicitar às autoridades esportivas da França que revoguem a proibição de atletas que usam hijab, tanto nas Olimpíadas quanto em todos os níveis do esporte.
Em resposta a carta, o COI alegou que a proibição francesa do uso de hijab no desporto estava fora do âmbito do movimento olímpico, afirmando que “a liberdade de religião é interpretada de formas muito diferentes por cada Estado”.
Atletas afetadas
Proibida pela Federação Francesa de Atletismo de usar o hijab para cobrir os cabelos durante o Campeonato Europeu em Roma, a velocista Sounkamba Sylla, competiu de boné. Sua atitude chamou a atenção do público e viralizou nas redes sociais.
Sounkamba foi pressionada a disputar sem o véu ou a desistir de sua vaga, assim como outras atletas muçulmanas. Segundo o Le Parisien, a velocista tentou disputar outro torneio com um véu simples, mas foi repreendida pelo Ministério do Esporte, que considerou o fato uma afronta à determinação local.
A jogadora de basquete muçulmana francesa Diaba Konate tinha esperança de representar seu país nas Olimpíadas de Paris, mas não teve chance porque usa o lenço na cabeça.
“Apesar do meu desejo e habilidades, não estou realmente autorizado a jogar pela França por causa de políticas discriminatórias”, disse ela durante uma conferência de imprensa organizada por grupos de direitos humanos para pedir que a França anule as proibições aos muçulmanos de usarem véu na cabeça nas provas.
O Ministério do Esporte deixa claro que a atleta deve seguir as ordens por representar a França em competições, logo, deveria seguir o “princípio da neutralidade dos agentes do serviço público”.
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