Descobrimento ou invasão? O Brasil não superou o mito fundador do descobrimento, dizem historiadores

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A chegada dos portugueses à Bahia em 22 de abril é considerado o Dia do Descobrimento do Brasil, mas há algum tempo os movimentos anticoloniais e decoloniais reivindicam uma posição contrária. Este ano o Notícia Preta entrevistou historiadores que explicaram e revelaram mais sobre o processo histórico brasileiro.

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Lívia Teodoro é historiadora, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para ela o Brasil não superou o mito fundador do “descobrimento”. A concepção de que o país foi “descoberto por acaso” desempenhou um papel significativo na justificação da ideia de que os povos indígenas encontrados aqui não eram considerados humanos plenos e, por isso, necessitavam da intervenção e “civilização” trazida pelos colonizadores europeus.

Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, obra do pintor Oscar Pereira da Silva (Oscar Pereira da Silva/ Reprodução) – Foto: Márcio Filho/MTur

“Embora a escassez de documentos históricos que comprovem especificamente o conhecimento das tropas portuguesas sobre o que encontrariam seja evidente, estudos contemporâneos sugerem que o chamado “descobridor” já possuía pelo menos alguma noção de que encontraria um território, embora talvez não tivesse plena consciência de sua dimensão”, explicou Livia.

Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Romulo Barros, explica que o primeiro contato dos estudantes já é com os povos ameríndios, suas culturas e como isto remete a eles diretamente, como isso interfere em suas subjetividades.

O contato com o europeu em sua chegada à América somente ocorre no ano seguinte, quando estudam a expansão marítima. Segundo ele os professores de história tem uma pergunta frequente: “descobrimento ou invasão?“.

Romulo entende que o Brasil começou a apenas compreender seu mito fundador, “mas ainda não alcançou as ferramentas necessárias para superá-lo. Mais do que compreender que já havia gente aqui antes dos portugueses, ou qualquer outro europeu que aqui tenha chegado e reivindicado este solo como seu por direito divino com base no fictício testamento de Adão, nós precisamos nos inteirar de quem eram estes que aqui estavam, quem eles ainda são e o que deles faz parte daquilo que nós nos tornamos, argumenta.

Jonathan Raymundo, professor de história e filosofia formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) assim como Romulo acredita que a superação desse mito é ainda nosso maior desafio. Para Jonathan, a consciência histórica brasileira é mais dada ao esquecimento do que a memória.

“Vamos encobrindo processos históricos traumáticos como se eles se resolvessem em passe de mágica. O Brasil muda para continuar igual, na medida em que não acerta as contas com seu passado, com suas injustiças. Isso não deve ser um movimento contra personagens históricas, como princípio, mas como os modelos sociais que os fizeram possíveis”, diz Jonathan.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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