O Haiti tem cerca de 5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, afirma o diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Jean-Martin Bauer, da Organização das Nações Unidas (ONU). Os dados apresentados são de relatório recente da Classificação Integrada da Fase de segurança Alimentar (IPC), na sigla em português.
Para Bauer, no entanto, o mundo já se acostumou com a situação humanitária crítica pela qual o Haiti passa. “Talvez as pessoas tenham se acostumado ao Haiti sofrendo com níveis tão altos de fome. Mas não deveria ser uma desculpa”, disse ele em entrevista à Folha de S.Paulo, divulgada nesta quarta-feira.
Para o diretor do programa, que atua na área desde 2000, a insegurança alimentar no Haiti foi piorando ao longo dos anos, e se agravou depois do furação Matthew, que atingiu o país em 2016.
“Em 2016, não havia insegurança alimentar aguda no Haiti. Após o furacão Matthew, no final daquele ano, eram 1 milhão nessa situação. O número chegou a 4 milhões durante a Covid. Agora estamos em 5 milhões”, alega ele.
O problema se agravou pelo conflito armado no país e o Haiti vem enfrentando, desde março, uma crise de segurança, quando grupos armados agiram para libertar milhares de presos da Penitenciária Nacional e mais de 3.500 escaparam.
Bauer diz que os grupos armados estão “impedindo” o funcionamento do sistema alimentar. “Enquanto houver conflito, não teremos um Haiti com segurança alimentar”, afirmou. “Os grupos armados têm atacado os agricultores e sequestrado as mulheres que levam produtos agrícolas do campo para as cidades”, disse na entrevista.
Bauer fala que o Brasil é uma inspiração no combate à fome. Ele cita o programa Fome Zero, criado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante seu 1º mandato, em 2003, e também o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
“Precisamos investir nos pequenos agricultores, e acho que o Brasil tem programas muito interessantes que mostram como isso pode ser feito. Precisamos apoiar os pequenos agricultores deste país para que possam alimentar seu próprio povo”, completa.
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