Nascido e criado em Recife, capital de Pernambuco, Anderson Oliveira seguiu o caminho da formação publicitária para iniciar seu caminho profissional com o que segundo ele, sempre foi bom: criatividade e comunicação. Atualmente, aos 37 anos, Anderson é Relações Públicas e Gerente de Negócios e Relacionamento de importantes iniciativas. Segundo ele, trabalhar nessa área é um desafio.
“Não quero que esta e as próximas gerações sofram o que eu sofri, já é hora de repararmos isso. Depois que entrei neste mercado tão restritivo, não permiti que me tirassem. Procuro deixar a porta aberta para os meus pares, conectando-os a oportunidades que eles não conhecem ou ainda não acessam. Me incomoda a filosofia do preto único, somos muitos e bons em muitas coisas“, diz Anderson, em entrevista ao Notícia Preta.
Segundo ele, a estrutura que recebeu desde muito novo, permitiu que chegasse, onde chegou. “Minha infância em Recife foi marcada por muito afeto, sendo criado pela minha avó, Maria de Lourdes, enquanto meus pais trabalhavam arduamente para nosso sustento. Isso possibilitou que eles investissem na minha educação e do meu irmão“, conta.
De acordo com Anderson, crescer cercado de amor de família e amigos lhe rendeu muitos ensinamentos, mas que em determinado momento sentiu a necessidade de explorar novas oportunidades. “Como todo retirante nordestino, percebi as oportunidades de fazer história em outro lugar e vim para o Rio consolidar o percurso que já havia iniciado“.
Publicitário de formação, Anderson conta que seguiu esse caminho por conta das aptidões que possui. “Era conhecido por ser criativo e ter ideias, frequentemente participando das comissões de organização de eventos“, diz ela, que já trabalhou como produtor gráfico e produtor executivo, e depois, trabalhando na estruturação do Open Air Brasil, um evento de grande relevância no setor de cinema.
“Esta oportunidade me trouxe para o eixo Rio-São Paulo, onde após um tempo recebi o convite para assumir a posição de head de negócios“, explica. Chegando em uma nova região, trabalhando na área de evento, Anderson afirma que foi percebendo novas oportunidades aparecerem.
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“Estreitei meu relacionamento com artistas, levando-os aos eventos que produzia e contando com a parceria de outros Relações Públicas. Essa colaboração me permitiu expandir minha atuação e desenvolver ainda mais minha paixão por unir a expertise em eventos com a promoção de talentos“, conta o profissional com 17 anos de experiência, que após a pandemia também começou a trabalhar com influenciadores e marketing digital.
Sobre sua experiência fora do Nordeste, Anderson afirma que se mudar para o Rio de Janeiro possibilitou viver de seu sonho, mas destaca as dificuldades que fazem parte do processo. “No Brasil, fazer uma análise correta deste tipo de migração, perpassa por feridas dolorosas. A primeira é a vergonhosa xenofobia que, muitas vezes disfarçada de brincadeira, generaliza e ridiculariza características tão peculiares da identidade de uma região“, desabafa.
Além disso, Anderson também ressalta que sendo um homem negro, também enfrentou muito preconceito. “O fato de ser um negro recifense (nordestino), acabava por tornar-se um obstáculo a mais para os objetivos profissionais que eu almejava. Aquela máxima que nós sempre ouvimos “tem que ser dez vezes melhor”, por ser nordestino, talvez vinte vezes mais por ser negro“, desabafa o RP.
Dificuldades no mercado
Sem muitas pessoas negras atuando na sua área, principalmente trabalhando com grandes empresas, Anderson conta que apesar de serem poucos, percebe também um aumento de profissionais negros no meio, e que negar esse crescimento “é desmerecer uma luta histórica de quem chegou antes“, e que “estamos caminhando a passos lentos para a simetria plausível“.
Assim, Anderson acredita que no lugar que ocupa, tem a chance de mudar o olhar das pessoas. “Sinto que é estratégico estar no sudeste, como um profissional que pode provocar que as empresas percebam que seus projetos ficam melhores quando olham para a diversidade racial, e que ela também abrange o norte e nordeste, do Brasil“.
O profissional aponta que apesar de serem mais de 50% da população, pessoas negras não são maioria nos cargos de decisão nas empresas, e ocupam em massa, serviços de subalternidade. Contudo, Anderson acredita na possibilidade de mudança. “Creio que estamos mexendo no tabuleiro do xadrez. Temos que ficar atentos nas armadilhas dos micros e macros poderes. Principalmente para não rivalizar entre a gente“.
O RP e gerente que negócios conta que mesmo chegando na posição que ocupa hoje, precisa exigir respeito constantemente, e que se por acaso errar, “o racismo e a xenofobia gritam com mais força“, o que ele considera desumano. Mas que mesmo com as dificuldades, ainda trilha um caminho de possibilidades.
“Tenho muito que fazer profissionalmente estou longe de ser perfeito, mas vejo o que já fiz e a importância do que faço me motiva a seguir em frente, por mim e pelos nossos, pois sei que vale a pena“, diz Anderson Oliveira.