Espetáculo “CARALÂMPIAS” tem último final de semana de apresentações, no Rio

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O encontro no Hospital Psiquiátrico do Engenho de Dentro entre Dona Ivone Lara, Maura Lopes Cançado e Nise da Silveira é ponto de partida para o espetáculo Caralâmpias

Com uma equipe de criação inteiramente feminina, o espetáculo costura histórias de mulheres que criaram novas possibilidades de existência, através da arte, no hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro, como um convite a pensar a arte, a loucura e o lugar da mulher na sociedade atual. O espetáculo “CARALÂMPIAS” é apresentado até este domingo (19).

As sessões que acontecem neste final de semana, começam às 19h na Sala Multiuso do Sesc Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. A peça é idealizada por Mariana Kaufman, que assina a direção e dramaturgia junto de Luisa Espindula, a partir do argumento de Mariana Patrício.

A peça está em cartaz no Rio de Janeiro, até este final de semana /Foto: Mariana Kaufman com arte de Priscila Lopes 

Em 1959, é lançado o álbum de Chega de Saudade de João Gilberto e inaugurada a I Exposição de arte neoconcreta. Em um Rio de Janeiro, que tem na zona sul a promessa de alegria e de futuro, do outro lado da cidade, muito longe desse prestígio, a escritora Maura Lopes Cançado está internada pela segunda vez no Hospital psiquiátrico do Engenho de Dentro, de onde escreve Hospício é Deus – Diário I.

Também estão lá a psiquiatra Nise da Silveira, e Yvone Lara, futura compositora e sambista Dona Ivone Lara – as duas trabalham na Sessão de Terapêutica Ocupacional. Nise trabalhou no Hospital durante décadas implementando uma série de mudanças para um tratamento mais humanizado dos
internos, utilizando para isso ferramentas como pintura e encabeçando a reforma psiquiátrica no país. Dona Ivone foi enfermeira e terapeuta ocupacional fundamental nesse mesmo processo, por 38 anos, enquanto compunha mais de 300 canções, se tornando a primeira mulher a assinar um samba enredo e a primeira a integrar uma ala de compositores de uma escola de samba.

A peça, selecionada pelo Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar, é parte de um projeto maior que inclui um longa-metragem em desenvolvimento com estreia prevista para 2025. O filme tem roteiro das duas dramaturgas da peça junto com Kariny Martins e direção de Mariana Kaufman.

Em cena, Alice Morena, Aline Borges e Lisa Eiras dão voz a essas três mulheres somadas a outras vozes femininas, pondo em cheque os lugares particulares e coletivos que tantas mulheres ocuparam nesse universo. Com direção musical de Claudia Elizeu, todo o ambiente musical e melódico da peça surge a partir das composições de Dona Ivone Lara.

“Caralâmpias” é uma peça teatral que, para pensar sobre arte, loucura e o lugar da mulher na nossa sociedade, parte deste momento em que essas três mulheres coabitaram o mesmo espaço. Um espaço marginalizado e excludente em que a arte, na experiência das três, foi a forma de resistência que fortaleceu e deu caminho para essas vidas.

Dentro daqueles muros, a expressão artística diminuiu o embrutecimento, a dureza e a solidão impostas pelas grades, as paredes brancas e os remédios. A peça, de forma não-linear, episódica, transitando entre o humor e o drama, fábula a partir das experiências e vozes dessas 3 mulheres e conta também um pouco da história e da revolução das práticas psiquiátricas, e do espaço que começou como a Colônia de psicopatas do Engenho de Dentro e hoje em dia é o Instituto Municipal Nise da Silveira.

O projeto nasceu durante os anos da pandemia do Covid-19, o que já era desolador e ficou ainda pior no Brasil, agravados por um governo negacionista e anti-vacina. Nesse período as doenças mentais se proliferaram exponencialmente e parecem ter atingido quase toda a população. Grande parte dela esteve
confinada, enclausurada, necessitando cuidar do lar, da família, manter seus empregos e tentar cuidar da cabeça atormentada.

Quem não pode estar confinada, lidou com o medo diário do risco desconhecido, de se colocar em risco, de colocar suas famílias em risco e tentar cuidar da cabeça atormentada. E é nesse contexto que cresce o desejo de mergulhar no universo da saúde mental tendo como protagonistas as mulheres. E é de mãos dadas com Dona Ivone Lara, Nise da Silveira e Maura Lopes Cançado que “Caralâmpias” se consolida.

O título “Caralâmpias”, vem da expressão cunhada por Nise da Silveira que, quando criança, apaixonou-se por essa palavra e com ela batizou sua cadela. Mais tarde, quando foi presa política pela ditadura de Vargas, ficou amiga de Graciliano Ramos na prisão e os dois passaram a definir as pessoas em “Não Caralâmpias” e as “Caralâmpias” sendo as pessoas resistentes, potentes, que não esmoreciam. Graciliano passa a chamar Nise de Caralâmpia desde então.

O espetáculo apresenta um pouco do universo dessas três Caralâmpias, mulheres geniais, que, cada uma à sua forma, romperam barreiras e construíram novos mundos. Ampliaram a voz de dezenas de mulheres,
apresentando narrativas femininas plurais que lidaram com a arte e suas potências, desafiando as noções convencionais de arte, loucura e o papel da mulher em nossa sociedade.

Serviço:

Caralâmpias
Data: Até 19 de novembro de 2023
Dias da semana: de quinta a domingo
Horário: 19h
Local: Sala Multiuso do Sesc Copacabana
Ingressos: R$ 7,50 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30
(inteira)
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro –
RJ
Informações: (21) 2547-0156
Bilheteria – Horário de funcionamento:
Terça a sexta – de 9h às 20h;
Sábados, domingos e feriados – das 14h às 20h.
Classificação indicativa: 14 anos
Duração: 80 min
Lotação: 45 lugares (Sujeito à lotação)
Gênero: drama

FICHA TECNICA
Inspiradas por Dona Ivone Lara, Nise da Silveira e Maura Lopes Cançado
Idealização: Mariana Kaufman.
Dramaturgia e direção: Luisa Espindula e Mariana Kaufman.
Atuação e criação coletiva: Alice Morena, Aline Borges e Lisa Eiras.
Argumento: Mariana Patrício.
Figurinos e cenografia: Ticiana Passos.
Direção musical: Claudia Elizeu.
Iluminação: Lara Cunha.
Direção de movimento e coreografia: G’leu Cambria.
Identidade Visual: Priscila Lopes.
Consultoria teórica: Gabriela Serfaty.

Pesquisa: Luisa Espindula.
Fotografias: Mariana Kaufman
Supervisão de fotografia: Ilana Bessler
Direção de produção: Lisa Eiras
Produção executiva / Captação de Apoios: Bruno Paiva
Ass. de Produção: Juliane Cruz 
Assessoria de imprensa: Nova comunicação.
Coordenação Geral: Mariana Kaufman
Realização: Fagulha Filmes

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