Espetáculo tem dramaturgia e direção de Luiz Antonio Sena Jr., atuação de Anderson Danttas, Muri Almeida e Rafael Brito
O que é um museu? Quem escolhe o que é exposto? Como é o seu museu? A partir destas perguntas, o CORRE Coletivo Cênico monta a ‘peça Museu do Que Somos‘. As apresentações acontecem na Sala do Coro do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), até este domingo (22).
As apresentações ocorrem de quinta a sábado, às 20h, e domingos, às 19h. Os ingressos podem ser comprados online ou na bilheteria do local. Entre documentos oficiais, narrativas biográficas, movimentos coletivos e vivências performativas, a obra convida o público a experienciar o lugar de curador de uma exposição e construir um museu que exponha não apenas sua memória, mas sobretudo os contextos do vivido e as peças do presente.
Com direção e dramaturgia de Luiz Antônio Sena Jr., a obra mistura teatro, performance e museologia criando um ambiente onde “o espectador é convocado a se colocar como curador, auxiliando, sugerindo e compondo o Museu do Que Somos“, destaca. Nesse sentido, discute questões sociais urgentes como a perspectiva de comunidade, a hegemonia das narrativas, as representações afetivas, os impactos do colonialismo e as camadas de registro e exposição a qual temos vivido em meio a digitalização da humanidade.
Em cena, os atores Anderson Danttas (Ruína de Anjos, Flor de Julho, Dandara), Muri Almeida (Banzo, Lola Apple) e Rafael Brito (Desviante, Afronte-Akulobee, PARA-ÍSO), atuam num misto de curadores, mediadores culturais e obras vivas, vestindo muitos personagens de si para, a partir de suas histórias, refletir com o público sobre “o que somos como humanidade? qual é o patrimônio que temos construído para as gerações futuras? como dou conta do legado de meus ancestrais?“, interroga Danttas. “As presenças corporais e imateriais LGBTQIAPN+, negras, indígenas, do interior para o mundo – são nosso foco“, arremata Rafael.
Sem financiamento, a peça marca a estreia oficial do CORRE Coletivo Cênico nos palcos, ainda que o agrupamento se dedique há quatro anos em criar experiências de afirmação das dissidências.
A “peça”
A cada visita-vivência-apresentação, um novo museu, um espetáculo diferente. Entre cena e exposição, legado e performance, presença e representação, a peça Museu do Que Somos é uma obra construída no limite, na fronteira, na margem. Cada “peça” exposta é uma tentativa de colocar em evidência histórias coletivas.
A cenografia, também assinada por Luiz Antônio Sena Jr., se funde a iluminação de Marcus Lobo e ao figurino de Guilherme Hunder – criado em colaboração com o elenco -, trazendo elementos cotidianos, como roupas, cadeiras e luminárias feitas com panelas, cujo manuseio no espaço, potencializam suas funções básicas, aproximando a lógica museal da prática pessoal. A poética do acúmulo espelha a realidade dos “guardados de memória e restos da gente“, pontua Hunder.
Mais do que apresentar situações, a dramaturgia da peça elabora perguntas criando fissuras para a reflexão que se dá, literalmente, em movimento. Tal qual a invasão de um vírus que acaba por desestruturar uma pretensa ordem e fragilizar sujeitos, estas perguntas são, ainda, lançadas através de projeções, criadas também por Lobo, as quais compõem a paisagem da encenação ao passo que convocam o público a se posicionar.
Os recortes, as cores e os desenhos de luz, também auxiliam nessa mobilização do expectador-curador, assim como a trilha, assinada por Roquildes Junior, que abusa de texturas sonoras para provocar sensações e criar densidades diante de situações que povoam o imaginário coletivo, a exemplo de homenagens que o grupo faz a ancestrais LGBTQIA+, como Jorge Lafond e Ney Matogrosso.
Com produção assinada pelos integrantes do CORRE (Anderson Danttas, Luiz Antônio Sena Jr e Rafael Brito), o processo de criação da peça Museu do Que Somos iniciou em maio de 2022, através de laboratórios cênicos e dramatúrgicos realizados na Casa Teatro (em Santo Amaro-BA), e, dos encontros de reflexão e prática afirmativa com homens gays, realizados ao longo do mesmo ano, através do projeto Corre Pra Sentir. No ano seguinte, a pesquisa foi dinamizada a partir da ocupação do Laboratório de Experimentações Estéticas do Museu de Arte da Bahia (MAB-BA) e, posteriomente, do Centro Cultural Makota Valdina, além de passear pelas residências (museus particulares) dos integrantes do CORRE e de realizar uma experiência cênica no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), integrando o evento Primavera dos Museus, onde pode experimentar com o público as estratégias criadas na sala de ensaio antes da estreia oficial.
CORRE
A peça Museu do Que Somos integra o repertório de iniciativas cênico-performativas e pedagógicas do CORRE Coletivo Cênico, criado em 2019, com a finalidade de discutir, através das artes da cena e da presença, os impactos da masculinidade na construção da identidade dissidente. Sua pesquisa de linguagem se dá a partir da biografia de seus integrantes – artistas transdisciplinares, gays, negros e do interior da Bahia que se encontram residentes em Salvador: Anderson Danttas, Igor Nascimento, Luiz Antônio Sena Jr, Marcus Lobo, Muri Almeida (ator convidado) e Rafael Brito.
Ao longo de 04 anos, radicalmente atravessados pela pandemia, criaram a experiência virtual “Delivery da Gente” (2020), que discutia a objetificação dos corpos LGBTs, e a obra cênico-virtual episódica “PARA-ISO” (2021), indicada ao Prêmio Braskem de Teatro, nas categorias Melhor Espetáculo Adulto, Melhor Texto e Melhor Direção, vencendo nesta última. Além de uma série de performances em vídeos disponibilizadas no Youtube.
Realizaram, ainda, as rodas virtuais de diálogos “Conversas Pro Paraíso” (2021 e 2022), com convidados nacionais, discutindo sobre a homoafetividade e a sorofobia; e, os encontros presenciais do “Corre Pra Sentir” (2022 e 2023), voltados a homens gays para partilha de histórias e afirmação das subjetividades.
Serviço
O quê – peça Museu do Que Somos
Quando – 12 a 22 de outubro – quinta a sábado, às 20h, e domingo, 19h
Onde – Sala do Coro do Teatro Castro Alves
Ingressos – R$50 (inteira) e R$25 (meia) – plataforma Sympla e na bilheteria do local – https://bileto.sympla.com.br/event/87680/d/220256/s/1483555
* Ingressos Promocionais – 40% de desconto para assinantes do Clube Correio e para quem fizer doação de roupas – as quais devem ser entregues na entrada do teatro, no dia em que for assistir ao espetáculo.
Leia também: “É importante criar grandes cidadãos”, diz Adalberto Neto sobre peça ‘A Fabulosa Fábrica de Música’