Nesta terça-feira (15) vai ao ar o quarto episódio da série inédita “Companhias do Teatro Brasileiro”, exibida com exclusividade no Canal Curta!, contando a história do Teatro Experimental do Negro (TEN), criado por Abdias Nascimento na década de 1940. Com direção de Roberto Bomtempo e a produção de Camisa Listrada, o episódio que vai ao ar às 23h30.
Artistas como Ruth de Souza, Léa Garcia e Haroldo Costa, relembram em entrevistas inéditas, como o TEN surgiu, seus objetivos e sua trajetória. Léa foi uma das atrizes que passou pelo TEN, e foi casada com Abdias. Ne entrevista inédita ela ressalta que ele valorizava profundamente a profissão teatral e exigia dos atores um comportamento exemplar.
“Ele enfatizava a importância de respeitar horários, ser pontual e dominar o texto, demonstrando ser um líder exigente em busca da excelência artística. A visão e os ensinamentos de Abdias Nascimento foram fundamentais para a formação e crescimento dos artistas”, relembra.
O teatro brasileiro sempre teve um predomínio de atores brancos, com raras exceções na primeira metade do século passado. Entre essas figuras, destacam-se os irmãos Vasques (século XIX) e Benjamin e Vitória de Oliveira, que vieram do circo-teatro. Já Grande Otelo foi revelado pela Companhia Negra de Revistas, a primeira a colocar um negro em cena. Esses artistas, no entanto, eram de linhagem cômica e somente com a criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), atores negros passaram a representar papéis dramáticos.
A produção também conta com fotos e entrevistas históricas ilustram o episódio, que conta ainda com o pesquisador Daniel Marano e Elisa Larkin Nascimento, escritora e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros.
Abdias Nascimento — ator, poeta, jornalista, economista e militante da causa negra — foi o criador da companhia ao lado de Aguinaldo Camargo, Theodorico dos Santos e José Hernel. O TEN foi uma resposta a uma prática comum na época conhecida como “black face”, na qual atores brancos tinham o rosto pintado de preto para interpretar personagens negros.
Abdias ficou indignado ao assistir a uma produção teatral que utilizava essa prática e decidiu fundar um teatro negro que servisse para combater o racismo. O “Experimental” viria para romper conceitos, permitir a experimentação artística e o questionamento das normas estabelecidas. Além, claro, de mostrar que os negros também podiam ser atores e participar ativamente das produções teatrais.
Em um primeiro momento, o elenco do TEN seria composto por pessoas humildes, entre empregadas domésticas e funcionários públicos de baixo nível. Por isso, segundo Elisa Larkin Nascimento, escritora e diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, a primeira medida tomada foi a de ofertar aulas de alfabetização porque “sobretudo naquela época, mais do que hoje, não se fazia teatro sem texto. O texto era a estrutura do teatro, então tinha que saber ler”, ressalta ela.
O TEN estreou em 8 de maio de 1945 com a peça “O Imperador Jones”, de Eugene O’Neill, não por acaso, a mesma que Abdias tinha assistido anos antes, marcando a primeira vez que atores negros pisaram no palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Entre os talentos estava Aguinaldo Camargo, que era delegado de polícia, e se mostrou uma das grandes revelações dramáticas da década.
O pesquisador Daniel Marano explica que Abdias do Nascimento, desde o começo, quis que o Teatro Experimental do Negro fosse mais do que apenas um grupo teatral, que desenvolvesse atividades paralelas ao palco. Assim vieram os cursos de alfabetização, congressos, debates sobre a questão do negro, concurso de artes plásticas, de beleza e a publicação de um jornal, “Quilombo”.
A companhia enfrentou inicialmente resistência ao ser batizada com esse nome, pois muitos acreditavam que associar o termo “negro” ao teatro seria um caminho certo para o fracasso. No entanto, o episódio narra que Abdias tinha uma visão clara: o TEN não era uma proposta exclusiva para negros, mas sim um espaço onde o negro teria protagonismo e liderança, onde suas perspectivas e concepções artísticas seriam valorizadas. A ideia nunca foi excluir brancos, mas sim proporcionar visibilidade aos artistas negros.
Ao longo da década de 1960, o TEN se afastou dos palcos devido a questões financeiras e passou a focar mais nas atividades sociais e políticas lideradas por Abdias Nascimento, que seguiu carreira política, uma forma de ampliar conquistas. Em uma rara entrevista, Abdias explica a importância da companhia. “O Teatro Negro é uma afirmação da cultura negra, da capacidade do negro de se organizar, a capacidade de luta do negro e de cultura africana no Brasil, independentemente de qualquer influência branca”.
“Teatro Experimental do Negro” pode ser assistido também no Curta!On – Clube de Documentários, disponível na Claro TV+ e em CurtaOn.com.br. Novos assinantes inscritos pelo site têm sete dias de degustação gratuita de todo o conteúdo. A estreia do episódio é na Terça das Artes, 15 de agosto, às 23h30.
Terça das Artes (Visuais, Cênicas, Arquitetura e Design) – 15/08
23h30 – “Companhias do Teatro Brasileiro” (Série) – Episódio: “Teatro Experimental do Negro” – INÉDITO
O Teatro Experimental do Negro nasceu com a proposta inovadora, no século XX, de valorizar a cultura afro-brasileira, experimentar estilos teatrais e, principalmente, formar atores negros. Criado por Abdias Nascimento, o TEN foi revolucionário para o teatro brasileiro. Direção: Roberto Bomtempo. Duração: 26 min. Classificação: 10 anos. Horários alternativos: 16 de agosto, quarta-feira, às 03h30 e às 17h30; 17 de agosto, quinta-feira, às 11h30; 19 de agosto, sábado, às 18h30; 20 de agosto, domingo, às 08h30.
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