A percepção da população brasileira sobre o sistema tributário está mudando. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta-feira (10), 76% dos brasileiros são a favor de cobrar mais Imposto de Renda dos chamados super-ricos, pessoas com renda mensal superior a R$ 50 mil. Em contrapartida, 20% se posicionou contra a medida.
A proposta, defendida pelo governo federal, busca garantir que os mais ricos contribuam de forma mais proporcional com os cofres públicos, compensando a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, medida que também conta com apoio de 70% da população.
A pesquisa foi realizada com 3.054 pessoas de 16 anos ou mais em 172 municípios pelo Brasil de 1º a 3 abril. O levantamento revela ainda que, apesar do apoio popular, há ceticismo quanto à viabilidade política das mudanças: 45% acreditam que o Congresso não aprovará a isenção para rendas mais baixas.

O debate sobre a justiça fiscal no Brasil não é novo. Dados da Oxfam Brasil, em pesquisa realizada com o Datafolha em 2021, já indicavam que 84% da população era favorável ao aumento da taxação sobre os mais ricos para financiar serviços públicos como saúde e educação.
Segundo o Instituto Justiça Fiscal, enquanto países da OCDE arrecadam cerca de 8% do PIB com impostos sobre renda e patrimônio, o Brasil fica abaixo de 5%. Além disso, boa parte da renda dos mais ricos no país vem de lucros e dividendos — que, até recentemente, eram isentos de tributação.
Outras opiniões sobre o imposto
Para especialistas, a proposta de criar um imposto mínimo para super-ricos é um passo na direção de maior equidade fiscal. O modelo em discussão prevê que mesmo aqueles que hoje se beneficiam de brechas legais passem a pagar uma alíquota mínima sobre seus rendimentos, o que pode impactar principalmente investidores de alto patrimônio, empresários e grandes executivos.
Enquanto isso, iniciativas como a ampliação da isenção do IR para a base da pirâmide podem injetar mais renda no consumo das famílias e aquecer a economia. A questão que permanece é se o Congresso — onde há forte presença de grupos ligados ao empresariado — terá disposição política para aprovar medidas que mexem com interesses de grandes fortunas.
Um exemplo disso é a proposta do Partido Progressista (PP), que apresentou uma emenda sugerindo elevar o piso de incidência do imposto mínimo para quem ganha mais de R$ 150 mil mensais — três vezes acima do valor proposto pelo governo. O partido também propõe que a alíquota comece em 4% e suba gradualmente até 15% para rendimentos bilionários, buscando preservar pequenos empresários e profissionais liberais, como médicos e advogados.
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