A riqueza da literatura, cultura e conhecimento da população negra tomou conta de São Paulo com a abertura da 12ª FlinkSampa – Festa Internacional do Conhecimento, Literatura e Cultura Negra, parte da programação da 7ª Virada da Consciência 2024. O evento começou neste sábado (16) com uma inspiradora fala de José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, destacando a importância de promover reflexão e celebrar a negritude em todas as suas dimensões.
“Queremos apresentar a dimensão da nossa potência e da nossa capacidade”, afirma o reitor sobre o objetivo não só da Flink, mas da própria Virada. O evento literário acontece tanto no SESC Pompeia, na zona oeste da cidade, quanto na própria Universidade.
A criação do evento voltado para a literatura, segundo José Vicente, começou com uma reflexão sobre a ausência de escritores negros em eventos da área.
“Nos revoltamos pois diziam que não tinham escritores negros de qualidade, então resolvemos criar a nossa. Começamos então a reunir os negros de várias partes do Brasil e do mundo, e com isso muito pouco tempo depois, o negro esteve presente em outros eventos literários”, contou.
O Patrono do encontro literário que já coleciona, com esse ano, 12 edições, é Zumbi dos Palmares. Personagem que o reitor faz questão de ressaltar que após ser perseguido, mesmo após sua morte, passou a ser um símbolo de resistência.
”Até 30 anos atrás quando você abria uma literatura infantil sobre a história do Brasil, lá estava escrito que o Zumbi dos Palmares era um criminoso, mas sempre houve uma resistência para negar isso e mostrar que ele foi um herói. E hoje, daqui alguns dias, nós vamos parar nossas vidas para celebrar Zumbi como feriado nacional. Isso foi a luta de cada um de nós e nossa construção coletiva”, pontuou o reitor José Vicente.
Programação
A primeira mesa do dia foi “De Zumbi a Luiz Gama: Lutas pela Liberdade”, com os professores Flavio dos Santos Gomes e Ligia Ferreira.
Tratando da importância histórica das duas figuras, principalmente considerado o papel de destaque que ambas tiveram para a população negra em períodos diferentes do Brasil, a primeira mesa contou com reflexões importantes da professora Ligia Ferreira, que é professora associada no Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com um doutorado pela Universidade de Paris 3 – Sorbonne, com tese sobre a vida e a obra de Luiz Gama.
“Luiz Gama era fruto de um século 19, que era chamado o século das revoluções da liberdade […] Ele foi um nome importante na formação do Estado e Nação brasileira, como pensador e filósofo também”, conta a professora que também pontua não apenas a atuação de Luiz Gama como advogado e abolicionista, mas também no âmbito da literatura e do jornalismo.
“Ele se afirmar nesse campo de poder, influência e liberdade [a imprensa], foi muito importante e talvez a gente não tenha essa dimensão”, continuou.
A segunda mesa do dia foi “Educação Antirracista no Brasil”. Com participação do reitor José Vicente e do romancista Edilson Dias de Moura, a mesa debateu a importância da temática para o desenvolvimento da sociedade brasileira, e as dificuldades de implementar a iniciativa.
De acordo com Hugo Queiroz, de 20 anos, que estava assistindo as mesas, os debates foram atemporais. “Elas foram muito importantes para nos conscientizar sobre nosso passado, que é tão atual como nunca, principalmente para a população negra que segundo o IBGE é a maioria no Brasil”, pontua o jovem de Guarulhos, São Paulo.
A FlinkSampa continua neste domingo (17) a partir das 14h, com mais mesas e contato com autores.
Diante da relevância dos temas abordados, o Diretor de Equidade Racial e Relações Institucionais do Grupo Carrefour Brasil, Claudionor Alves, que é responsável pela parceria da instituição com a iniciativa, pontua o impacto de projetos como esse.
“Sem sombra de dúvidas projetos como esse fazem com que caminhemos rumo a uma transformação tão necessária no país, sendo do ponto de vista etinico, racial, sobre respeito de gênero e tudo referente a divisão do bolo. Ou seja, ter um país mais igualitário do ponto de vista socioeconômico”, explica Claudionor, que destaca a educação e a cultura, pontos centrais da FlinkSampa, como os caminhos para a mudança.
“Não há um caminho mais seguro e mais sustentável que a educação para assegurar a transformação e a equidade no país. Então a FlinkSampa acaba trazendo um despertar muito necessário e impactante na sociedade brasileira, sobretudo na comunidade negra”.
A 7ª Virada da Consciência 2024 tem o patrocínio master do Grupo Carrefour Brasil, um parceiro de longa data que sabe da importância de fazer parte de encontros que promovem reflexões sobre a cultura afro-brasileira e a luta contra o racismo. A companhia acredita que quando se desenvolve um debate relevante, consequentemente se trabalha para a construção de um futuro mais inclusivo, mais diverso e mais sustentável.
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