A Universidade de São Paulo (USP) anulou o concurso público que havia aprovado a doutora em literatura Érica Bispo, 45 anos, para o cargo de professora na área de literaturas africanas de língua portuguesa. A decisão ocorreu após recurso apresentado por seis candidatos brancos, que questionaram a qualificação da docente e pediram a anulação da banca avaliadora.
O concurso, regido pelo edital FFLCH/FLC n° 024/2024, ocorreu entre 17 e 21 de junho de 2024. Érica era a única candidata negra a participar. Segundo ela, seis participantes brancos apresentaram recurso coletivo alegando falta de capacidade técnica de Érica Cristina Bispo e suspeição da banca. “Eles alegaram que eu tive favorecimento, mas fui aprovada por mérito, em primeiro lugar”, afirmou em vídeo nas redes sociais.

Em julho do ano passado, a candidata foi notificada por e-mail de que havia um processo administrativo aberto em relação à vaga conquistada. No texto, os concorrentes contestam o “volume da produção científica”, assim como a pontuação atribuída a ela pela banca.
Érica respondeu oficialmente dentro do prazo estabelecido, ainda em dezembro, inclusive por meio de manifestação técnica elaborada por advogados. No entanto, de acordo com ela, o documento não foi incluído no processo.
“O resultado preliminar é um ato inválido. Há clara violação dos princípios da impessoalidade (relação de amizade entre a comissão avaliadora e a candidata), falta de parâmetros para atribuição das notas nas provas didática e de memoriais e alteração posterior de elementos do edital“, Trecho da argumentação do recurso.
A congregação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) havia homologado o resultado e rejeitado o recurso dos candidatos, mas a decisão foi revertida após parecer da Procuradoria e votação do Conselho Universitário. Segundo Érica, o conselho deliberou sem considerar a defesa. “Esse recurso tem caráter discriminatório. Quando uma mulher negra chega ao topo, as regras mudam”, afirmou.
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Para Érica, uma narrativa foi construída na intenção de culminar na anulação do concurso. A invalidação, segundo a aprovada, é baseada na ideia de uma relação íntima entre ela e duas professoras da banca. no recurso, os outros concorrentes teriam anexado fotos postadas em redes sociais em que Érica Bispo aparece ao lado das avaliadoras.
“São fotos em grupo e que definitivamente não provam uma amizade”, garante Bispo. “A banca foi composta por cinco professores e todos me deram notas consistentes e altas o tempo inteiro”, acrescenta.
Em vídeo mais recente nas redes sociais, onde a candidata atualiza apoiadores sobre os desdobramentos do caso, ela fala sobre uma atitude da UPS que de acordo com ela “pode tornar essa injustiça irreversível”, por conta de um novo edital que foi aberto pela USP para a mesma vaga que ela concorreu no ano passado. “Esse novo concurso consolida a injustiça e passa por cima do meu direito”, completou.
A USP foi procurada para responder sobre o caso, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta reportagem.