O consumo de bebidas e alimentos ultraprocessados, com alto teor de açúcar, sódio, gorduras e aditivos químicos, aumenta o risco de 32 problemas de saúde, como diabetes tipo 2, obesidade, doenças renais e cardiovasculares, diferentes tipos de câncer, transtornos mentais e até morte precoce. Esse foi o resultado de um estudo publicado em 2024, na revista científica BMJ, que reuniu dados e analisou a qualidade de centenas de pesquisas realizadas nos últimos anos sobre o tema.
Um dos resultados mais contundentes mostra que há evidências convincentes de que o consumo de ultraprocessados está associado a um risco aumentado de cerca de 50% de morte relacionada a doenças cardiovasculares, transtornos mentais comuns, e um risco 12% maior de diabetes tipo 2. Esses alimentos, formulados para alta palatabilidade, acabam substituindo refeições tradicionais e mais nutritivas, agravando a chamada transição nutricional no país.

Além dos efeitos nocivos à saúde, a campanha Duplo Impacto, promovida pela ACT Promoção da Saúde, chama a atenção para o impacto negativo destes produtos ao meio ambiente. Pesquisas científicas mostram que o aumento da produção e do consumo de ultraprocessados contribui para a poluição, perda da biodiversidade e da água. De acordo com um estudo da USP publicado na revista “The Lancet”, em apenas três décadas, os ultraprocessados foram responsáveis por um aumento de 245% nas emissões de gases de efeito estufa, 233% na pegada hídrica e 183% na pegada ecológica. Isso sem falar na poluição plástica produzida por essas indústrias. As duas maiores poluidoras de plástico do mundo são as maiores fabricantes de refrigerantes, bebidas ultraprocessadas: em 2024, a Coca-Cola foi responsável pela produção de 3,44 milhões de toneladas de plástico e a Pepsico, 2,55 milhões.
A ACT Promoção da Saúde e outros especialistas defendem políticas integradas para reduzir o consumo destes produtos e enfrentar essa ameaça tripla, à saúde, ao meio ambiente e à equidade social. Entre as medidas sugeridas estão a tributação seletiva mais alta, a rotulagem clara na frente das embalagens, a restrição da publicidade, especialmente para crianças, e programas que facilitem o acesso a alimentos saudáveis em escolas e comunidades.
Ultraprocessados podem parecer uma solução rápida e barata, mas o custo real é alto: vidas encurtadas, ambientes degradados e desigualdades reforçadas.