Trabalho e oportunidade. Esses são os principais motivos que faria com que 58% das pessoas que hoje estão envolvidas com o crime deixassem essa vida. É o que revela a pesquisa “Raio-X da Vida Real”, divulgada pela DataFavela nesta segunda-feira (17). O levantamento, o maior já realizado com pessoas em situação de crime em atividade no Brasil, ouviu 5 mil moradores de favelas em 23 estados, entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025.
O estudo traça um retrato inédito do chamado “ecossistema do tráfico”. Os dados mostram que 79% dos participantes são homens e 21% mulheres, enquanto menos de 1% se declarou LGBTQIAPN+. As referências afetivas centrais estão ligadas à família: 43% apontam a mãe como figura mais importante e 84% afirmam que jamais deixariam um filho entrar no crime.

Falta de dinheiro empurra para o crime e também pode tirar
A principal porta de entrada é a necessidade econômica. Segundo o levantamento, 63% ganham até dois salários mínimos atuando no crime, e 18% dizem que não sobra dinheiro no fim do mês. Além disso, 36% possuem um segundo trabalho legal para complementar a renda e 56% já passaram por encarceramento ao menos uma vez.
A pesquisa desmonta a ideia de glamour associado ao tráfico: 68% afirmam que não sentem orgulho do que fazem. Para a maioria, deixar o crime depende de dois fatores centrais: trabalho e renda estável.
Desigualdades e vulnerabilidades
Entre as mulheres, a pesquisa mostra que elas ocupam majoritariamente funções auxiliares na estrutura do crime. 13% relatam ter entrado por motivos ligados à violência doméstica, alcoolismo ou drogas na família. Pessoas LGBTQIAPN+, embora numericamente poucas no levantamento, enfrentam ainda mais precariedade: 37% ganham até um salário mínimo, índice semelhante ao das mulheres (35%).
Educação, saúde e cotidiano
A baixa escolaridade predomina, e muitos entrevistados afirmam que teriam estudado mais se pudessem voltar atrás. Problemas de saúde mental são frequentes: o levantamento registra altos índices de insônia, ansiedade e depressão. O lazer coletivo e o hábito de guardar dinheiro fora de bancos também são marcantes.
Visões de futuro
Apesar da vulnerabilidade, a percepção sobre o futuro é surpreendentemente otimista:
- 63% veem seu futuro de forma positiva;
- 60% acreditam em melhorias na favela onde vivem.
Os dados revelam um cenário complexo, mas deixam uma mensagem clara: o acesso ao emprego formal e estável é o principal caminho para romper o ciclo do crime.










