Uma pesquisa inédita da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) revela que 82,7% das mortes por suicídio registradas no Nordeste entre 2019 e 2022 ocorreram entre pessoas negras. O levantamento, conduzido pelo Observatório de Suicídio e Raça (Obsur), busca compreender como raça e desigualdade social influenciam os índices de mortalidade na região.
O estudo foi publicado na Revista Mosaico e utilizou dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM/DATASUS) para analisar os óbitos por suicídio nos nove estados nordestinos. Os números evidenciam uma desigualdade racial significativa. Em Alagoas, por exemplo, 94,5% dos casos foram de pessoas negras. Na Bahia, o índice chegou a 86,2%; no Ceará, 83,7%; em Sergipe, 88,8%; e no Rio Grande do Norte, 76,2%.

A pesquisa também detalha o recorte etário. Entre homens negros adultos, de 30 a 59 anos, a taxa representa 84,2% dos casos. Entre adolescentes, o cenário também preocupa: 82,2% dos suicídios são de jovens negros, o que significa que o risco de um adolescente negro tirar a própria vida é 4,6 vezes maior do que o de um adolescente branco.
O levantamento destaca que fatores estruturais como racismo, exclusão social, violência e isolamento contribuem para o aumento dos índices entre a população negra. A pesquisa aprofunda uma tendência já observada pelo Ministério da Saúde, que identificou, entre 2012 e 2016, um crescimento da proporção de suicídios entre pessoas negras, passando de 53,3% para 55,4%.
O estudo busca subsidiar a criação de políticas públicas específicas de saúde mental para a população negra, considerando as desigualdades históricas e sociais que impactam diretamente suas condições de vida.
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