Número de pessoas em situação análoga a escravidão bate recorde no Rio Grande do Sul

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Número de trabalhadores em situação análoga a escravidão cresce no Rio Grande do Sul. Apesar de uma queda ter sido registrada entre 2013 e 2020, o recorde foi registrado no dia 22 de fevereiro 2023, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com a libertação de 207 pessoas de uma só vez.

Segundo dados do Ministério Público do Trabalho (MPT), 208 trabalhadores em condições análogas à escravidão foram resgatados no Estado este ano. Em 2013 e 2020, foram registradas 107 libertações de trabalhadores em situação degradante. Em 2021, foram libertos 76 trabalhadores. Já em 2022, o número mais que dobrou, registrando 156 pessoas libertadas.

 Alojamento de trabalhadores em situação análoga a escravidão – Foto: Reprodução/MPT-RS

De acordo com os dados do MPT, nove em cada 10 dos trabalhadores resgatados no Rio Grande do Sul são homens, mais de um terço têm de 18 a 24 anos e 74% são pretos e pardos, segundo perfil traçado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Um perfil também traçado é que 22% dos resgatados estudaram até o 5º ano; 19% têm até o ensino fundamental; 3% eram analfabetos.

Além de resgates feitos em vinícolas das empresas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton, aconteceu no ano passado a maior ação de resgate no Rio Grande do Sul : quando 80 homens foram salvos em abril após serem aliciados na Bahia, Paraíba e Maranhão para trabalharem na colheita da maçã em Bom Jesus (RS).

Em março de 2021, 18 trabalhadores foram encontrados em situação semelhante em uma fábrica clandestina de cigarros na cidade de Triunfo, Região Metropolitana de Porto Alegre. Eles estavam confinados em um bunker subterrâneo, segundo o MPT.

“Um fator que contribui para aumento de casos de trabalho em condições análogas a de escravo é a redução das fiscalizações de rotina”, afirma o procurador Italvar Medina, coordenador nacional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete), em entrevista ao UOL.

E continuou dizendo que o aumento de resgates se deve  “aos índices de pobreza resultado tanto do agravamento da situação econômica do país, quanto dos efeitos da pandemia de covid-19. As vítimas são pessoas que não tiveram acesso à educação de qualidade — a maioria não tem nem sequer o ensino primário completo”, afirma. Ele ressalta ainda que a maioria e “já foi, anteriormente, vitimadas por trabalho infantil”.

“Quando a situação econômica se agrava, aumentam as chances de essas pessoas (…) serem aliciadas para trabalho em locais distantes mediante falsas promessas de ótimas condições de trabalho e remuneração. Chegando lá, descobrem que a situação não é como a prometida”, diz o procurador.

Em nota , o governo Estadual disse que, desde o resgate de trabalhadores nas vinícolas, foi criado “um grupo de trabalho com diferentes secretarias para acompanhar as ações”. O grupo fez  uma força-tarefa para erradicação desse tipo de exploração e se colocou à disposição dos resgatados “todos os serviços para reinserção no mercado de trabalho, bem como realização de qualificações e capacitações”.

O Estado de Minas Gerais, de acordo com o MPT, foi o ente federado com mais resgates em 2022, um total de 1070 pessoas resgatadas. A principal exploração de mão de obra aconteceu em Varjão de Minas, quando 273 trabalhadores eram explorados em atividade de corte de cana-de-açúcar

O Noticia Preta entrou em contato com o Ministério Público do Trabalho mas até o fechamento dessa nota, não obteve retorno.

Leia mais em: Operação resgata três trabalhadores em condições análogas à escravidão em MG

Marina Lopes

Marina Lopes

Marina Lopes é jornalista e escritora juiz-forana, apaixonada pela palavra e por contar histórias através dela.

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