Shell, Galp e Petrobras anunciaram a formação de um consórcio para a exploração de petróleo no Bloco 4 da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de São Tomé e Príncipe, país insular localizado no Golfo da Guiné, África Central. O acordo marca o retorno da estatal brasileira à região e representa um avanço estratégico para as três empresas em novas fronteiras de produção energética.
Segundo comunicado oficial, a Shell será a operadora do bloco, com 30% de participação. Galp e Petrobras terão, cada uma, 27,5%, enquanto os 15% restantes ficarão com a Agência Nacional do Petróleo de São Tomé e Príncipe (ANP-STP).

A iniciativa é vista como parte da expansão internacional das companhias, em especial da Petrobras, que voltou a atuar no país africano em 2024, após mais de uma década afastada. A nova movimentação está alinhada ao Plano Estratégico 2025-2029 da estatal brasileira, que visa diversificar o portfólio e fortalecer parcerias no exterior.
No entanto, o anúncio da parceria reacendeu preocupações sobre os impactos socioambientais da extração de petróleo no continente africano. Casos como os do Delta do Níger, na Nigéria, e da província de Cabinda, em Angola, são frequentemente citados como exemplos de exploração predatória. Nessas regiões, derrames de petróleo devastaram o meio ambiente, inviabilizando atividades como pesca e agricultura, que sustentam milhares de famílias. As contaminações também geraram crises de saúde pública, insegurança alimentar e deslocamentos forçados.
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Estudos conduzidos por organizações ambientais e de direitos humanos mostram que as populações locais frequentemente não são consultadas sobre os projetos, nem recebem compensações adequadas pelos prejuízos causados. Além disso, a infraestrutura necessária para a extração costuma desestruturar ecossistemas frágeis, provocando perdas irreversíveis.
Em São Tomé e Príncipe, o governo afirma que o acordo representa uma oportunidade para impulsionar o desenvolvimento nacional. A participação da ANP-STP no consórcio é citada como estratégia para garantir que parte dos lucros seja reinvestida na economia local. Ainda assim, especialistas defendem que o país adote salvaguardas rigorosas para evitar repetir os erros de outras nações africanas.
O continente tem sido um dos principais alvos da indústria petrolífera nas últimas décadas, mas nem sempre os benefícios prometidos se concretizaram para as populações locais. “As promessas de prosperidade nem sempre vêm acompanhadas de justiça ambiental e social”, afirma uma análise do relatório Oilwatch Africa, rede que monitora a atuação de petrolíferas no continente.
A expansão da Galp na região também chama atenção. Além do Bloco 4, a companhia portuguesa tem presença em outros blocos em São Tomé e Príncipe, como os blocos 6, 11 e 12, e avança na Namíbia com descobertas recentes.
O desafio, agora, está em conciliar interesses energéticos e econômicos com o respeito às comunidades locais e à preservação do meio ambiente, um dilema histórico em terras africanas.