“Cenário conservador”, diz professora sobre queda de ações escolares contra o racismo

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Recife – Alunos da Escola Municipal Abílio Gomes, na capital pernambucana, usam livros didáticos que podem ser proibidos pela Câmara de Vereadores (Sumaia Vilela / Agência Brasil)

A ONG Todos Pela Educação divulgou nesta terça-feira (25), um levantamento sobre projetos para combate ao racismo, machismo e homofobia nas escolas públicas brasileiras. Os dados mostram que as ações chegaram ao menor nível em uma década. O Notícia Preta entrevistou a professora Lavini Castro, que analisou a situação.

Lavini Castro é professora e doutoranda em História Comparada, e ao ser questionada sobre a queda de projetos para questões sociais em ambientes escolares, afirmou que acredita que o problema esteja na “falta de engajamento na discussão sobre as relações raciais e a evidência positiva da diversidade”, e no conservadorismo.

“Também contribuíram como entrave o pensamento e comportamento conservador de boa parcela de nossa sociedade que não quer conviver com a pluralidade de sujeitos, essa constatação ficou bem nítida nos anos de 2019 a 2021, por conta de um cenário político muito conservador, disse Lavini que também é mestre em Relações Étnico Raciais.

Em 2021, metade das escolas em território nacional afirmam ter ações contra o racismo /Foto: Sumaia Vilela – Agência Brasil

A professora ainda acredita que a desvalorização do discurso da educação para equidade racial e de gênero que fragiliza as ações dos professores no que diz respeito ao debate da diversidade nas salas de aula, é outro indicativo de entrave para se aprender a conviver com a diversidade.

Em 2015 houve o maior número percentual de escolas que responderam ter projetos contra o racismo, chegando a 75,6% das instituições. O menor número foi registrado em 2021, quando apenas 50,1% das escolas responderam ter ações contra o racismo.

Importante salientar que entre 2011 e 2019 a pergunta as escolas era, “Nesta escola, há projetos nas seguintes temáticas: Racismo” e entre 2019 e 2021 mudou para, “Nesta escola, há projetos com as seguintes temáticas: Relações étnico-raciais/racismo”.

O combate a homofobia e ao machismo também caíram. Em 2011, as escolas relataram ter 34,7% de ações contra machismo e homofobia. Houve um pico no índice em 2017, chegando a 43,7%. O menor índice foi no ano de 2021 que chegou a 25,5%.

A partir da edição de 2019, o item que abordava ambas as temáticas foi subdivido. Se antes a questão era “Nesta escola, há projetos nas seguintes temáticas: Machismo e homofobia”, a partir de 2019 são dois itens diferentes, um para cada tema. Segundo relatório da pesquisa, “para fins de comparação, optou-se por considerar em 2019 e 2021 aqueles(as) diretores(as) que responderam positivamente para a presença de projetos sobre machismo ou sobre a homofobia.”

Lavini comentou que, a falta de convivência com a diversidade pode ser bem perigoso. “A partir do momento que não é ensinada a convivência com a diversidade, e reforça-se um discurso de discriminação que aparece nas brincadeiras e piadas – que sabemos que na verdade é uma recreação ofensiva – é possível criarmos sujeitos que aprendem a se ofender e a não quererem conviver”.

Lavini Castro – Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas /Foto: Reprodução Instagram.

A professora ainda faz um alerta, de como essas atitudes e preconceitos podem causar. “É bem possível que o comportamento deles venha a refletir a cultura da sociedade. Quanto mais racista e homofóbica for essa sociedade, mais comportamentos ofensivos poderemos ver.”

Para a doutoranda, quanto mais discutimos a questão das diversidades, mais fácil será promover a convivência daqueles que são vistos como diferentes, pois segundo ela, só se é diferente dependendo do referencial, que nas sociedades modernas foi construído um ideal humano branco hetoronormativo como um padrão.

Lavini ainda destacou a importância de combater o racismo nas escolas. “De fato, projetos pedagógicos antirracistas são fundamentais nas escolas. Combater o racismo é questão primordial para a sociedade brasileira. Escolas que promovem tais projetos evidenciam a cultura da diversidade, promovendo a existência não só de novos conteúdos, até então silenciados ou marginalizados, como a existência de si, ou seja, de sujeitos invisibilizados“, disse a professora.

O levantamento do Todos Pela Educação utilizou dados extraídos dos questionários contextuais do Sistema Nacional de Avaliação Básica (Saeb) destinados a diretores e diretoras escolares, entre 2011 a 2021.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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