“Foi humilhante, foi desumano e foi cruel“. Essas foram as palavras usadas por Vivianne Noronha, esposa do cantor MC Poze do Rodo, para descrever o momento em que policiais civis entraram na casa do casal na manhã desta quinta-feira (29) e prenderam o artista, enquanto ele ainda estava deitado com a família. A ação, que gerou revolta nas redes sociais, foi criticada pela influenciadora digital por ter exposto seus filhos ao medo e à violência.
Poze e Vivianne dormiam com Júlia, filha do casal de apenas 4 anos, quando agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) cumpriram um mandado de prisão temporária contra o cantor. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, Poze, cujo nome verdadeiro é Marlon Brandon Coelho Couto, é investigado por apologia ao crime e associação ao tráfico de drogas. Na operação, além da prisão, foram apreendidos bens do artista, incluindo uma BMW vermelha avaliada em R$ 1 milhão.

No relato publicado em suas redes sociais, Vivianne relatou a ausência de qualquer tipo de sensibilidade por parte dos policiais. “Nem a roupa eu pude trocar. Minha filha na cama e vocês não queriam deixar nem eu pegá-la no colo. O mínimo vocês não podiam fazer, né? Marlon colocar um chinelo e uma blusa… Mas envergonhar e humilhar conta mais, né?”, desabafou.
A influenciadora também criticou duramente o sistema de justiça e as forças policiais, afirmando que a ação foi uma tentativa de oprimir e silenciar um homem negro e favelado que conseguiu mudar sua realidade. “É por isso que muita gente não confia na polícia!”, declarou.
A prisão de Poze causou forte repercussão nas redes sociais, onde fãs, influenciadores e outros artistas se manifestaram em solidariedade ao cantor. Muitos internautas publicaram vídeos comparando a forma como Poze foi algemado, sem camisa e conduzido à força pelos policiais, com imagens de prisões de homens brancos, como a do ex-deputado Roberto Jefferson, que foi detido dentro de casa, de forma pacífica e sem algemas, mesmo após atirar contra agentes da Polícia Federal.
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As críticas ressaltam o tratamento desigual reservado a pessoas negras nas ações policiais no Brasil. A comparação, apontam especialistas e ativistas, expõe o racismo institucional no sistema de justiça criminal, em que o corpo preto é constantemente associado à criminalidade e tratado com violência desproporcional.
Nas palavras de Vivianne Noronha: “Marlon é resistência e vocês são lixos”. A declaração reverberou como um grito de denúncia, escancarando mais uma vez as desigualdades profundas que ainda marcam a realidade de milhares de famílias negras no país.
O advogado de MC Poze, Fernando Henrique Cardoso Neves, declarou ao g1 que considera a prisão arbitrária: “Queremos entender o motivo dessa nova prisão. Essa é uma narrativa já antiga. Vamos saber se é um mandado de prisão preventiva. Se ele não for liberado, vamos entrar com um habeas corpus”.
Até o momento, Poze continua detido na Cidade da Polícia, no Rio de Janeiro. O caso segue em investigação.