Porteiro preso por reconhecimento por foto, aponta racismo em processo judicial

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O porteiro Paulo Alberto da Silva Costa foi solto na noite da última sexta-feira (12) depois de 3 anos preso por conta de reconhecimento por foto. Após deixar o Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, e abraçar a família que o esperava na porta, o homem de 37 anos afirmou ter sido vítima de racismo nas ações penais.

“Com certeza [houve racismo], sem dúvida”, disse Paulo. O porteiro foi reconhecido por vítimas em 62 ações penais por uma foto retirada de suas redes sociais e colocada no álbum e no mural de suspeitos da Delegacia de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Depois de entender que todos os processos foram baseados no reconhecimento fotográfico falho, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) mandou soltar o porteiro, na última quarta-feira (10).

Paulo Alberto da Silva Costa ao lado da mãe e da irmã logo após ser solto /Foto:  Reprodução/TV Globo

Ainda na porta da penitenciária, em entrevista à TV Globo, o porteiro disse estar feliz e aliviado de ter sido solto. “Tô muito feliz de estar perto da minha família, saber que vou ver meus filhos. Acabou aquele inferno lá dentro, [que vivi] injustamente]”, disse.

Na decisão, os ministros absolveram Paulo de uma das acusações e solicitaram que os demais processos sejam reavaliados pelos juízes competentes. A relatora, ministra Laurita Vaz, afirmou que a partir da avaliação do STJ, reconhecimento fotográfico não pode ser usado como prova cabal de crime.

“O reconhecimento positivo pode comprovar a autoria. Não significa que a afirmação do ofendido que identifica agente do crime é prova cabal. Do contrário, a função dos órgãos de estado seria relegado a segundo plano, a mero homologador da acusação”, disse.

O Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) indicou que em todos os casos em que Paulo foi identificado, o procedimento policial foi o mesmo: o reconhecimento fotográfico e o pronto encerramento das investigações, sem investigação e produção de outras provas.

Nas redes sociais a organização comemorou a soltura do homem às vésperas do dia 13 de maio – que de acordo com a publicação evidencia a “abolição inconclusa em nosso país” – e do Dia das mães. Também evidenciaram que mesmo livre, ainda há algumas burocracias para garantir a liberdade do porteiro.

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“No caminho para a liberdade completa de Paulo ainda será preciso atravessar uma complexa trilha processual. Porém, ontem (12), foi dado o grande primeiro passo”, disse o IDDD no Instagram.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Formada em Jornalismo em 2021, atualmente trabalha como Editora no jornal Notícia Preta, onde começou como colaboradora voluntária em 2022. Carioca da gema, criada no interior do Rio, acredita em uma comunicação acessível e antirracista.

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