Peça “Marighella – O Homem que Não Tinha Medo” faz temporada em São Paulo até junho

Pietro-Cadete-e-Fabio-Neppo-vivem-Marighella.jpg

Carlos Marighella foi um político, escritor e guerrilheiro, um dos principais organizadores da luta armada contra a ditadura militar brasileira, chegando a ser considerado o inimigo “número um” do regime. Sua trajetória impactante agora se torna um espetáculo. “Marighella – O Homem que Não Tinha Medo” faz temporada que que começou nesta semana, até 22 de junho no Teatro Paiol Cultural, em São Paulo.

O espetáculo possui direção geral, produção e idealização de Allan Oliver, direção de Graça Cunha e é protagonizado por Pietro Cadete e Fábio Neppo, e as sessões acontecem às sextas e sábados às 20h30 e domingos às 19h.

Foto: Miguel de Moraes

“Marighella – O Homem que Não Tinha Medo” narra a juventude e a maturidade de Marighella, seus conflitos internos, suas paixões, seus sonhos e sua luta incansável por um Brasil justo. Através de um jogo cênico dinâmico, com comentários de Jorge Amado e Fidel Castro, o espetáculo convida o público a repensar a história oficial e refletir sobre o presente. Uma obra que mistura emoção, crítica e poesia, celebrando a coragem de quem nunca teve medo.

“O espetáculo nasceu de uma urgência pessoal e política. Como homem preto, artista e filho adotivo, eu fui vítima de uma falsa acusação que me expôs e quase destruiu minha trajetória. Mesmo após provar minha inocência na justiça, senti na pele o quanto corpos pretos seguem sendo criminalizados, silenciados e descartáveis. Ao olhar para a história de Carlos Marighella, vi não só um símbolo da resistência, mas um espelho da minha própria dor. Esse espetáculo é minha resposta. É um grito contra as mentiras que criam sobre nós, é também um pedido de justiça e memória por mim, por Marighella e por todos os que foram calados”, conta Allan Oliver.

A peça escancara a criminalização dos corpos pretos, o silenciamento das vozes dissidentes e o racismo estrutural que ainda define quem é inocente ou culpado antes mesmo do julgamento, e questiona as mentiras contadas pela história oficial e convida o público a enxergar por outras lentes. Para o produtor, o espetáculo é sua forma de “respirar depois de quase me afogarem, e me manter de pé depois de ser injustamente atacado”, e deseja que o público veja, se emocione, reconheça a luta e se una.

O espetáculo é narrado por Jorge Amado, um poeta da ternura, interpretado por João Victor Gonçalves, e Fidel Castro, um general da revolução, interpretado por Eduardo Saad. Enquanto Jorge representa o afeto, Fidel traz o peso político, e os dois disputam a forma na qual a história será contada, estando ali não apenas para explicar, mas tensionar a narrativa, convidando o público a tomar uma decisão.

No meio dos dois, está Carlos Marighella, interpretado em sua versão jovem por Pietro Cadete e por Fábio Neppo quando adulto. A proposta é mostrar o contraste de gerações: Carlos jovem sendo ousado, apaixonado e impetuoso, e adulto sendo estratégico e carregando feridas, sendo uma costura poética e política entre gerações.

“Interpretar Marighella é uma grande responsabilidade por contar uma face de um homem político, um herói mulato que merece ser reconhecido e ser fonte de inspiração e firmamento na sociedade. Estou muito honrado com essa oportunidade de participar dessa celebração de mais uma figura ilustre que lutou contra a ditadura, pelo povo, pelo seus. A dobradinha com Pietro é fantástica, pois já percebi a aura talentosa só de olhar pra ele. Muito feliz em trocar com esse prodígio”, diz o ator Fábio Neppo.

Para Pietro Cadete, que vive seu primeiro protagonista nos palcos, a expectativa é de que o público esteja disposto a embarcar na narrativa junto dos atores. “Marighella está sendo meu primeiro protagonista, e as únicas coisas que posso dizer sobre é que eu nunca sorri e aprendi tanto em meio a um projeto. A responsabilidade é grande, mas o aprendizado também é. Acredito que muitas pessoas querem ouvir mais sobre essa história, talvez com outros pontos de vista. Sinto a responsabilidade de repassar a história do homem que foi considerado inimigo número um do estado adiante”, reflete o ator.

Além de Marighella, Fidel Castro e Jorge Amado, a produção conta com um elenco forte e simbólico.

“Estarão presentes figuras que atravessaram a vida dele, ou que representam forças da história, como Clara Charf, sua companheira de luta e amor; Sérgio Fleury, símbolo da repressão; Maria Rita e Augusto Marighella, seus pais; Gianfrancesco Guarnieri, Oscar Niemeyer, entre outros. São personagens que compõem um mosaico da memória e da luta negra e popular no Brasil e na América Latina. Todos têm algo a dizer — sobre o passado, o presente e o futuro que queremos construir”, completa a diretora Graça Cunha.

Leia também: Luiz Gonzaga – Légua Tirana: filme sobre ícone da música estreia dia 12 de junho em todo o Brasil

Deixe uma resposta

scroll to top