As secretarias de Educação do Paraná, Mato Grosso e Goiás afirmam que a obra “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, apresenta “expressões impróprias” para menores de 18 anos, e que, por este motivo, precisa ser reavaliada ou retirada das bibliotecas das escolas públicas. De acordo com estudiosos, retirar esse exemplar das redes de ensino é uma falha gravíssima, ancorada no racismo, repetindo procedimentos de censura típicos dos anos da Ditadura Militar.
A obra de Jeferson , vencedora do Prêmio Jabuti em 2021, consta na lista de livros obrigatórios do vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), considerado um dos mais concorridos de todo o país. Inclusive, o livro teve um aumento de 400% em vendas na Amazon, em decorrência das manifestações de censura que iniciaram na última sexta-feira (01), quando Janaína Venzon alegou que o vocabulário presente no livro era “de tão baixo nível , vulgar”, e que precisava ser retirado das escolas.
O autor da obra ressaltou que ficou surpreso com a reação contra a obra. “Me causa espanto porque nós já temos tão poucos leitores no Brasil e deveríamos estar preocupados em formar leitores, e não censurar livros”, declarou em entrevista ao programa
Ao Ponto, da Globonews. Na última sexta-feira (01), o escritor enfatizou em suas redes sociais, que a medida é “uma violência e uma atitude inconstitucional, não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada”, afirmou em uma postagem no Instagram.
“O mais curioso é que as palavras de ‘baixo calão’ e os atos sexuais do livro causam mais incômodo do que o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura ou movimentos autoritários que prejudiquem estudantes a ler e refletir sobre a sociedade em que vivemos”, escreveu Tenório, em suas redes sociais.
De acordo com a professora e comunicóloga Luiza Andrade, os trechos que abordam relações sexuais e a sexualização dos personagens podem ser um dos principais argumentos para a censura da obra, mas segundo ela, essa justificativa é falha. Políticos de direita chegaram a afirmar que o livro possui “linguagem pornográfica”.
“Não se trata apenas sobre como o livro é escrito, mas sobre a mensagem que ele quer passar, sobre o que aquele material ensina aos alunos, que tipo de questionamento estimula e a quais conclusões os estudantes vão chegar ao consumir aquela obra”, defendeu Luiza em entrevista ao G1.
O autor está recebendo apoio de leitores, educadores, famosos, escritores, políticos, da editora Companhia das Letras entre outras personalidades e instituições. Além disso, Jefferson segue realizando atos e palestras contra a censura, contra o racismo e reivindicando democracia nas escolas. Aliás, suas participações em mobilizações e eventos estão sendo divulgadas nas suas redes sociais.
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