Um documento lançado nesta quinta-feira (23) em Brasília coloca as mulheres quilombolas na vanguarda do debate sobre justiça climática. Produzida pelo Coletivo de Mulheres da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), a cartilha “Mulheres Quilombolas por Justiça Climática” funciona como um chamado para a mobilização rumo à COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, em 2025.
De acordo com a CONAQ, o material, que teve apoio do Instituto Ibirapitanga e do Fundo ELAS, detalha como a crise climática afeta os territórios tradicionais e apresenta demandas concretas ao governo federal, com foco em reparação histórica e titulação de terras.
Nathalia Purificação, coordenadora de comunicação da entidade, foi enfática ao abrir o evento. “Não haverá transição ecológica sem território titulado, sem reparação histórica e sem a escuta real das mulheres negras quilombolas”, declarou. Ela descreveu a publicação como uma convocação para que as mulheres ocupem os espaços de poder. “Não seremos convidadas, invisibilizadas ou usadas como vitrine. Seguimos de pé, com a terra nos pés e o futuro nas mãos”.

A iniciativa segue um movimento recente da organização. Uma semana antes, a CONAQ já havia apresentado a NDC Quilombola, uma contribuição própria com metas para o enfrentamento das mudanças climáticas. Na ocasião, o coordenador nacional Biko Rodrigues criticou a exclusão dos quilombolas nas políticas oficiais do governo.
“O governo mandou a sua NDC no ano passado, mas ela em nenhum momento falou sobre as comunidades quilombolas. Falou sobre povos da floresta, do canto, da árvore, mas quase nada sobre os povos negros e indígenas. Então, foi preciso que nós mesmos disséssemos: estamos aqui”, explicou Rodrigues em entrevista a CONAQ.
A mesa de lançamento da cartilha reuniu lideranças como Fran Paula, engenheira agrônoma da CONAQ, que detalhou o processo de criação. “A metodologia dessa publicação partiu de uma escuta coletiva com as lideranças do Coletivo de Mulheres”, contou. Ela acrescentou que o objetivo foi traduzir a linguagem técnica sobre o clima para fortalecer a luta da base.
A coordenadora do Coletivo de Mulheres, Cida Sousa, definiu o momento como uma virada. “As mulheres estão escrevendo a partir da sua concepção, da forma que tem que ser dita”, comemorou.
O evento contou com a presença de representantes de entidades parceiras, como o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a ONU Mulheres, o Instituto Socioambiental (ISA) e as embaixadas da Espanha e do Reino Unido, sinalizando um reconhecimento amplo da relevância da pauta quilombola na agenda climática internacional.
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