O presidente da Argentina, Javier Milei, voltou a gerar polêmica nesta segunda-feira (15) ao compartilhar em seu perfil oficial no Instagram uma imagem que retrata países da América do Sul sob uma divisão ideológica: na ilustração, o Brasil aparece como uma grande favela, enquanto a Argentina surge representada por uma cidade futurista e desenvolvida. A comparação foi amplamente criticada por internautas e analistas políticos, sobretudo no Brasil.
A montagem publicada inicialmente por um perfil de apoiadores de Milei traz a legenda “O povo sul-americano grita liberdade!!! Chega de socialismo empobrecedor.” e associa governos de esquerda; como o brasileiro, a cenários degradados, enquanto países com administrações de direita aparecem com paisagens urbanas modernas e tecnologia de ponta.

O compartilhamento ocorre no rastro de mudanças políticas no continente: no domingo (14), o candidato de direita José Antonio Kast foi eleito presidente do Chile, reforçando uma tendência de crescimento de forças conservadoras na América do Sul. Com a nova configuração, a região terá a partir de 2026 seis países sob governos de direita e seis sob governos de esquerda — incluindo Brasil, Uruguai e Colômbia entre os primeiros e Argentina, Chile e Paraguai entre os segundos, segundo a orientação política de seus líderes.
A imagem publicada por Milei também divide a região ideologicamente: nela, Brasil, Uruguai, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname, todos governados por líderes identificados com a esquerda, aparecem estigmatizados visualmente; enquanto Argentina, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Paraguai — com governos moderados ou claramente de direita — aparecem em posições mais vantajosas.
Repercussão internacional
A postagem provocou reações nas redes sociais, com brasileiros contestando o uso de estereótipos para comparar países e citar diferenças econômicas como Produto Interno Bruto (PIB) e taxas de câmbio entre Brasil e Argentina como argumento contra a comparação simplista. Segundo dados recentes citados pela imprensa, o PIB brasileiro é significativamente maior que o argentino — mais de US$ 2 trilhões contra cerca de US$ 633 bilhões — embora isso não reflita diretamente em indicadores sociais como renda per capita.
Economista e político com forte discurso liberal e crítico ao socialismo, Javier Milei é uma figura polarizadora na política sul-americana. Eleito presidente argentino em 2023 com uma plataforma que combina propostas de liberalismo econômico radical, redução do tamanho do Estado e crítica ao socialismo, Milei tem marcado sua presidência por gestos simbólicos e retórica combativa contra governos progressistas da região.
Até o momento, o governo brasileiro não emitiu uma resposta oficial ao compartilhamento do presidente argentino. Ainda assim, a imagem reacendeu debates sobre polarização ideológica e relações diplomáticas na região.
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