O consumo mundial de cocaína atingiu seu nível mais alto, impulsionando o poder e a violência de facções criminosas brasileiras, de acordo com dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). O Relatório Mundial sobre Drogas 2025 estima que 25 milhões de pessoas usaram a droga em 2023, um aumento significativo em relação aos 17 milhões registrados em 2013.
Este crescimento na demanda, particularmente na Europa, fortaleceu facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). A ONU afirma que o tráfico “continua impulsionando o crime organizado e gerando lucros aos criminosos”, com a violência associada aumentando drasticamente. O Brasil consolidou-se como um eixo central neste fluxo, funcionando como ponte entre os países produtores andinos e os mercados consumidores europeus.
Um relatório da InSight Crime e da Global Initiative Against Transnational Organized Crime detalha que as conexões diretas do Brasil com as zonas de produção, seus portos no litoral atlântico e seu cenário de crime organizado tornaram o país uma opção atraente para os traficantes. O porto de Santos é destacado como um ponto crítico, com as apreensões de cocaína saltando de 4,5 toneladas em 2010 para 66 toneladas em 2019. O estudo conclui que “hoje, a principal ponte de tráfico para a Europa não é mais a Venezuela, mas o Brasil”.

Segundo a publicação, “os lucros do tráfico para a Europa permitiram que o PCC concluísse sua transição de uma facção carcerária para um ator transnacional”. A organização controla corredores de cocaína que se tornaram uma das artérias mais importantes para a Europa, de acordo com a Europol.
Annette Idler, da Universidade de Oxford, disse em entrevista a BBC que as facções se tornaram mais globais e, portanto, mais poderosas. “O consumo aumentou e isso, é claro, também fortaleceu as diferentes organizações”, afirmou. Ela também destacou que o Brasil desenvolveu seu próprio mercado consumidor robusto, o que intensifica a violência local.
Para Roberto Uchôa, pesquisador da Universidade de Coimbra, ouvido pela BBC, o PCC é a facção que mais se beneficiou com a alta demanda europeia. No entanto, ele ressalta que o tráfico de cocaína já não é a principal fonte de renda desses grupos, representando entre 30% e 40% dos lucros, que hoje são diversificados com atividades como o controle territorial e comércios ilegais. Apesar disso, a disputa pelas rotas de fornecimento para a Europa permanece intensa.
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