Via Reuters
O Mali suspenderá as transmissões dos meios de comunicação internacionais RFI e France 24, financiados pelo estado francês, em uma repressão sem precedentes à mídia estrangeira sobre o que a junta militar governante disse serem falsas alegações de abusos do exército.
Comentários da chefe da Comissão de Direitos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, e do grupo de direitos Humanos Human Rights Watch (HRW), acusam os militares de violações, que foram relatadas pela RFI e pela França 24, nos últimos dias, disse a junta em um comunicado na quinta-feira.
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No início desta semana, a Human Rights Watch disse que soldados malianos foram responsáveis por matar pelo menos 71 civis desde dezembro.
A emissora de rádio RFI também publicou uma série de depoimentos de pessoas que disseram ter sido torturadas por soldados malianos e supostos mercenários russos que operavam ao lado deles.
As relações entre o Mali e o antigo mestre colonial França pioraram nos últimos meses, desde que a junta recuou nas promessas eleitorais.
A junta maliana encenou dois golpes desde agosto de 2020 e renegou os planos de realizar eleições em fevereiro, provocando sanções do bloco regional da África Ocidental e da União Europeia.
A presença da Rússia na nação do deserto agravou as tensões.
Autoridades ocidentais disseram que centenas de empreiteiros do grupo militar russo, Wagner, estão operando no Mali. Wagner negou que tenha presença lá. A junta diz que apenas treinadores militares russos estão no país.
Ele disse ainda que o que chamou de propaganda da mídia “foi uma estratégia premeditada destinada a desestabilizar a transição política, desmoralizar o povo maliano e desacreditar o exército maliano“.
Também comparou a reportagem da RFI e do canal de TV France 24 à infame rádio “Mille Collines”, em Ruanda, acusada de transmitir propaganda que ajudou a incitar o genocídio de 1994.
A mídia local será proibida de difundir RFI e conteúdos da France 24, uma vez que a suspensão está em vigor, acrescentou, sem dizer quando isso seria. As duas tomadas ainda estavam no ar no Mali na quinta-feira (17).
O Ministério das Relações Exteriores da França chamou a decisão de suspender as emissoras de um grave ataque à liberdade de imprensa e disse que as alegações de abusos do exército não devem ser ignoradas.
Corinne Dufka, diretora associada da Divisão África da HRW, chamou a crítica dos atores de direitos e a medida contra a RFI e a França 24 de “profundamente preocupantes”.
A France Medias Monde, holding estatal que conta com a França 24 e a RFI entre suas subsidiárias, disse que rejeitou as “acusações infundadas” do Mali.
RETIRADA DE TROPAS FRANCESAS
Em fevereiro, as crescentes tensões pressionaram a França a anunciar a retirada de soldados destacados em todo o país desde 2013. leia mais
Também em fevereiro, as autoridades malianas expulsaram um repórter francês para a revista semanal Jeune Afrique.
As aflições do Mali remontam a quando os jiadistas sequestraram uma revolta separatista do norte em 2012. Grupos armados ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico ganharam terreno desde então, apesar da presença de milhares de tropas internacionais e pacificadores da ONU.
Ataques se espalharam pelos vizinhos Burkina Faso e Níger, matando milhares e forçando mais de dois milhões a fugir.
A HRW, com sede em Nova York, acusou militantes e soldados malianos de executar sumariamente civis.
Ele disse que os abusos do exército aumentaram ao longo dos anos, e ligou os militares a 35 corpos carbonizados encontrados na região central de Segou este mês, alguns com buracos na parte de trás de suas cabeças.
O governo do Mali disse à HRW que estava investigando uma série de abusos descritos no relatório recente, mas negou envolvimento na execução de Segou.
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