“Pagode Urbano #01”, novo álbum de Lukinhas, é um resgate das suas origens na comunidade. O artista dedicou a faixa “Eu sou Favela” para exaltar e mostrar a simplicidade que norteou a sua vida. Mas, antes disso, percebeu que tinha se distanciado do lugar.
“Esse álbum foi um resgate para mim porque a gente sempre busca evoluir e melhorar, procuramos referências e mais referências. No percurso, fui por um caminho que me distanciou da minha comunidade”, explica. O artista atualmente possui mais de 180 mil seguidores nas redes sociais, milhões de players nas plataformas digitais, compõe para grandes artistas, como Gloria Groove, Iza, Ludmilla e Delacruz, mas não vive mais na região.
Antes de elaborar o novo álbum, Lukinhas recebeu uma chamada de atenção de um velho amigo: “Ele brincou e disse: “Música pra publicidade tu já tem, né? Cadê as músicas dos cria?”. Lukinhas refletiu: “Tomei esse “tá ligado” de um amigo meu. Foi quando comecei a pensar em tudo o que me trazia de volta às minhas raízes”, explica.
A partir disso, o cantor foi recalculando a rota e entendendo como realizaria o seu próximo trabalho. “No “Pagode Urbano #01, eu trago a simplicidade e a resiliência de quem vive lá”. Lukinhas relembra uma curiosidade sobre o figurino que usou para os conteúdos audiovisuais do projeto. Na semana da gravação, o pagodeiro dispensou a ajuda de um stylist e usou a roupa que ele utiliza nas ruas:
“Peguei a blusa do Real Madrid que eu gosto, coloquei uns cordões, botei meu chinelo e fui do jeito que ando normalmente. Deu muito certo, a galera gostou demais”, conta.
O artista pontua que essa atitude pode ter gerado mais identificação com a sua comunidade, seus amigos de infância e com os jovens e crianças que veem nele uma referência: “Eu não precisei pegar uma roupa chique ou de grife, super arrumada. Me vesti do jeito que eles estavam, foi muito bom eles me virem assim. É óbvio que ao longo da minha carreira eu conquistei algumas peças mais caras, mas eu estava igual a todos ali. Igual aos moleques da minha rua”, declara.
Para o cantor, existe um simbolismo nessa atitude: “Eles viram que não precisa de muito para ser artista. Eles não precisam pagar muito por uma roupa, só precisam estar ali com a sua arte. Lukinhas cresceu na comunidade da Asa Branca em Curicica, no Rio de Janeiro, e diz que os ensinamentos que carrega
para a sua vida são a simplicidade e a resiliência: “Para viver em qualquer comunidade do Brasil é preciso. A vida é pedreira, difícil. Ela joga você para baixo e você tem que ser resiliente para acreditar que vai conseguir mudar a sua realidade”, explica
O cantor afirma que leva esse aprendizado na sua vida profissional e pessoal: “Vi durante a minha infância inteira o meus pais, avós, amigos dos meus pais, todos os trabalhadores da minha comunidade assim e alguns continuam até hoje. É isso que carrego deles, essa força de vontade e a capacidade de serem resilientes”, completa Lukinhas.
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