“Lançar um produto sem considerar as nuances das peles negras evidencia falta de cuidado”, diz maquiador

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Nas últimas semanas, o caso da base da marca norte-americana Youthforia, que viralizou nas redes por conta do tom de base mais escuro com nenhum pigmento além de óxido preto puro, ressaltou que ainda falta diversidade no mercado de maquiagem. É o que afirma o maquiador Emerson Damas, que produz conteúdo focado em beleza.

O caso da base da Youthforia evidencia uma falta de cuidado porque demonstra uma abordagem superficial e desinformada sobre a diversidade de tons de pele. Lançar um produto que não leva em consideração as nuances e subtons das peles negras é um indicativo de que a marca não se empenhou em pesquisar ou testar adequadamente seu produto em uma gama diversificada de consumidores“, explica em entrevista ao Notícia Preta.

Uma pesquisa realizada pela Avon em 2020 aponta que 70% estavam insatisfeitas com as maquiagens vendidas. /Foto: Pexels

Uma pesquisa realizada pela Avon em 2020 aponta que das 1.000 mulheres negras ouvidas, 70% estavam insatisfeitas com as maquiagens vendidas. A maior parte delas, com problemas em conseguir a cor certa para seu tom de pele.

Segundo o maquiador, no caso que viralizou, “utilizar óxido preto puro, que não é adequado para criar uma base que harmonize com a pele negra, reforça a falta de entendimento e sensibilidade da marca em relação às necessidades dos consumidores negros“.

O caso foi classificado por Emerson como racismo cosmético, termo criado pelo maquiador e jornalista Tássio Santos, que escreveu o livro “Tem Minha Cor”. “O racismo cosmético refere-se à discriminação e exclusão sistemática de pessoas de pele escura na indústria da beleza. Ele se manifesta quando as necessidades específicas das pessoas negras são ignoradas ou tratadas de forma inadequada“.

Influenciadora norte-americana Golloria Groove denunciando a marca dos EUA /Foto: Reprodução Redes Sociais

Segundo ele, essas situações “reforçam a mensagem de que peles negras não são uma prioridade, perpetuando estereótipos e marginalizando essas comunidades no mercado de beleza“. Ele também aponta que falta de representatividade é um fator crucial com relação ao erro sobre tonalidade.

Quando as empresas não incluem pessoas de pele escura em suas equipes de desenvolvimento, marketing e liderança, elas carecem de perspectivas vitais sobre as necessidades e desafios desses consumidores. A presença de profissionais negros ajudaria a garantir que produtos sejam testados adequadamente em uma gama diversificada de tons de pele“, explica.

Mas para além da inserção de um profissional negro, também é preciso que a marca pense além. “Há uma tendência de tratar produtos para peles negras como um nicho, em vez de uma parte integral do mercado, levando a lançamentos mal executados e mal informados”, diz Emerson, que diante desta avaliação, também pondera sobre outros problemas, como a qualidade das fórmulas.

Produtos destinados a peles escuras muitas vezes não possuem a mesma qualidade ou inovação tecnológica que aqueles feitos para tons de pele mais claros. Isso inclui a durabilidade, a capacidade de controlar a oleosidade, e a harmonização com subtons específicos. A falta de opções acessíveis e amplamente disponíveis também limita o acesso a produtos adequados para peles escuras“, explica.

Maquiador Emerson Damas /Foto: Reprodução Redes Sociais

Emerson, que é maquiador desde 2017, atuando principalmente com maquiagens artísticas e que começou a entrar nessa área por conta do Halloween, consumia muito conteúdo relacionado à beleza nas redes sociais e assim começou a mostrar as suas produções em vídeos também.

Esse tempo no ramo, e a visão diante das discussões sobre o racismo dentro do ramo da beleza, fizeram com que o maquiador destacasse pontos que acredita serem importantes para que o cenário mude.

A educação contínua sobre a diversidade de tons de pele e as necessidades específicas de consumidores negros também é vital para garantir que produtos adequados e de alta qualidade sejam desenvolvidos e disponibilizados no mercado. Por fim, criar canais de feedback direto com consumidores negros pode ajudar as marcas a entender melhor e atender suas necessidades de forma eficaz“.

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Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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