“Por que tiraram a vida do meu filho assim?” diz mãe de jovem Guarani e Kaiowá com deficiência que morreu após ação da PM

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Dourados (MS), 25/08/2024 - Área rural ocupada por indígenas nos arredores da reserva indígena de Dourados. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A família de Junior Concianza Severino, de 24 anos, contesta a versão policial sobre a morte do jovem que ocorreu na aldeia Panambizinho, em Dourados.

“Eu vou cobrar, não vou deixar barato. Por que tiraram a vida do meu filho assim? Ele é jovem ainda. Eu pedi pra salvar a vida dele. Ele tem a questão da saúde mental, é verdade, mas não é um bicho pra matar desse jeito”, é o que diz Fineida Neusa Aquino Concianza, mãe de Junior Concianza Severino, de 24 anos, indígena Guarani e Kaiowá que foi morto pela Polícia Militar na tarde da última quinta-feira (16) na aldeia Panambizinho, em Dourados (MS).

A família do jovem contesta a versão divulgada em nota pela corporação que afirma que Júnior estava “em surto” ou que tenha tentado tirar a arma dos policiais. Segundo a mãe do jovem, na tarde da quinta feira ela teria levado o filho até o Posto de Saúde da aldeia para tratar de um problema no pé do jovem e que ao chegar lá chamaram o Samu sem que ela entendesse o motivo para tal ação:“Fui conversar com o pessoal do postinho para saber como ele seria medicado, tomar banho, cortar o cabelo. Então chamaram o Samu, mas eu até agora não entendi a razão”, conta.

Área rural ocupada por indígenas nos arredores da reserva indígena de Dourados.
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Fineida explica que quando o filho viu o Samu ficou agitado e não em surto e que o comportamento do jovem teria assustado os pronto-socorristas, que foram embora. Na sequência a Polícia Militar chegou ao local atirando sem se identificar ou tentar entender qual era a situação.

“A polícia chegou perto da (árvore de) manga, e não veio falar comigo ou o pai dele. Nem falou, polícia. Desceu correndo (policiais) e veio para cima do meu filho, na árvore (mangueira). Quando começou a jogar cacetada, deram um tiro no meio da barriga dele. Segundo que atirou, e ele (o jovem indígena) correndo ao redor da árvore. Quando cheguei perto, ouvi outro tiro e fiquei afastado. Se eu chegasse perto do meu filho, ia acertar bala em mim. Acertou bem no ombro dele, caiu bem aqui, nos meus pés, sem vida. Por que fizeram isso?”, conta Fineida.

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Os familiares do jovem também relataram ao Conselho Indigeanista Missionário que Junior era oficialmente declarado como Pessoa com Deficiência Psicossocial (PCD) e que há cinco anos passou a viver sob constantes cuidados e sendo medicado diariamente e que não apresenta riscos a ninguém, vivendo normalmente na aldeia. A mãe do jovem diz que vai buscar por justiça: “Vou cobrar porque também não quero que aconteça com outros. Não podem nos tratar feito animais”

Versão da Polícia Militar

O NP entrou em contato com a Polícia Militar do Estado do Mato Grosso do Sul pedindo um posicionamento para as ações dos policiais no caso de Júnior, mas até o fim dessa reportagem não obteve retorno.

Layla Silva

Layla Silva

Layla Silva é jornalista e mineira que vive no Rio de Janeiro. Experiência como podcaster, produtora de conteúdo e redação. Acredita no papel fundamental da mídia na desconstrução de estereótipos estruturais.

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