Após estrear em Nova York e passar por São Paulo, a exposição coletiva “Ah, Eu Amo As Mulheres Brasileiras!”, chega ao Rio de Janeiro para questionar este “inevitável” ponto de vista e oferecer outra perspectiva sobre essas identidades por meio de 34 obras de artistas mulheres de todo o país. A mostra tem curadoria de Luiza Testa e estará em cartaz até 25 de fevereiro de 2024, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, o MAC.
Divididas em quatro grandes núcleos, as obras reúnem instalações, fotografias, esculturas, vídeos, litogravuras, entre outras linguagens, que vêm desafiar este lugar-comum, por meio da sensibilidade de artistas brasileiras de diferentes raças, etnias, idades e perfis. A curadora Luiza Testa buscou nomes consagrados no Brasil e no exterior, além de novos expoentes, para diversificar ao máximo o olhar sobre a proposta.
Participam Alice Ruiz, Arissana Pataxó, Berna Reale, Brenda Nicole, D’anunziata, Dalila Coelho, Fernanda Naman, Gabi Beneditta, Juliana Manara, Lenora de Barros, Mahuederu Karajá, Manuela Navas, Mari Nagem, Marta Neves, Milena Paulina, Micaela Cyrino, Nara Guichon, Raquel Pater, Santarosa Barreto, Terroristas del Amor, Vitória Cribb e Yacunã Tuxá.
“É um prazer, enfim, trazer a mostra para o Rio de Janeiro e a expectativa é que a gente possa discutir a sexualização da mulher brasileira. Não necessariamente chegar a uma conclusão, mas começar a falar sobre isso. Embora a gente saiba que hoje tudo está globalizado e a internet dá acesso à arte e a essa discussão, é importante levá-la para o mundo real”, diz a curadora Luiza Testa.
“Ah, Eu Amo As Mulheres Brasileiras!” teve sua estreia internacional na apexart, em Nova York, sob o título de “Oh, I Love Brazilian Women!” e também passou pelo Centro Cultural São Paulo (CCSP) este ano. Depois, seguirá em itinerância pelo Brasil.
A exposição também vai dialogar com a localização e com o espaço arquitetônico singular do MAC-Niterói, prédio projetado por Oscar Niemeyer para se relacionar com o espaço e com a sua vista única para a Baía de Guanabara. O fato das curvas da mulher brasileira serem umas das maiores inspirações do arquiteto também não passará despercebido.
“Existe uma tradição que coloca o corpo feminino sexualizado como fonte de inspiração, algo mencionado inclusive pelo próprio arquiteto que projetou o prédio do MAC, Oscar Niemeyer, e isso não deixa de ser uma forma de objetificação. Assim, vamos levar isso para a exposição em forma de questionamento, além de abordar a relação do museu com a paisagem, trazendo obras como a da Nara Guichon, a boneca ritxoco de Mahuederu Karajá e da Fernanda Naman, que falam da ligação entre a mulher e a natureza como algo muito mais profundo do que simplesmente essa relação de curvas”, completa Luiza.
As obras citadas são inéditas e a exposição ainda contará com outras, pois a cada nova edição, a curadoria se preocupa em trazer novos pontos de vista para gerar discussões.
Quatro grandes núcleos abordam a objetificação, a hipersexualização e a cultura da violência contra a mulher no Brasil
O primeiro núcleo da exposição é “De Iracema a Garota de Ipanema”, que traz a origem do estereótipo da mulher brasileira sensual, remontando, entre outras referências, ao atroz processo de colonização que, sob o pretexto de civilizar, desumanizou mulheres indígenas, classificando-as como hipersexualizadas e selvagens. Neste núcleo, estarão reunidas obras de Arissana Pataxó, Camila D’anunziata, Lenora de Barros, Mari Nagem, Marta Neves e Nara Guichon.
É também neste primeiro núcleo que será abordada a relação com a natureza e a tradição masculina de equalizar a mulher à paisagem, uma grave objetificação.
Em seguida, o núcleo “Violências e violações” traz para o cerne da discussão as diferentes violências que as mulheres brasileiras estão submetidas, desde a colonização, passando pelo brutal período de escravidão, quando as africanas e suas descendentes foram – e são – vítimas dessa violência, de forma particular. “Diante deste cenário nefasto, é natural que voltemos nosso olhar e esperança para a arte”, diz Luiza Testa.
Participam deste núcleo Berna Reale, Camilla D’anunziata, Gabi Beneditta, Juliana Manara, Marta Neves, Micaela Cyrino, Santarosa Barreto e Yacunã Tuxá.
O terceiro segmento é “Novas estéticas em construção”, que traz uma perspectiva de renovação, com um olhar atento sobre as possibilidades. Constam obras de Brenda Nicole, Dalila Coelho, Milena Paulina, Santarosa Barreto e Vitória Cribb.
“Esse núcleo fornece um cenário ligeiramente mais positivo, com obras realizadas por artistas comprometidas com o espírito de seu tempo e que colocam em prática a subversão dos papéis, desafiando as imagens de controle criadas por um sujeito – nesse caso, masculino e eurocêntrico – que domina a narrativa sobre determinados corpos e ainda responsabiliza as vítimas por isso”, explica Luiza Testa no texto curatorial.
Encerrando a exposição, o núcleo “Afeto e transgressão” transmite a ideia de afetividade como ferramenta de resistência e almeja um novo cenário com políticas públicas e de contenção à violência. Participam obras de Arissana Pataxó, Juliana Manara, Lenora de Barros, Manuela Navas, Raquel Pater, Terroristas del Amor e Yacunã Tuxá.
“Algumas obras desse núcleo revelam momentos de intimidade – situações normalmente relegadas à vida privada – mas que, aqui, são colocadas sob o holofote do debate público de forma que as emoções não sejam associadas ao binômio fragilidade/mulher em oposição ao de força/homem”, revela Luiza.
“Ah, Eu Amo As Mulheres Brasileiras!” poderá ser vista de terça a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h30).
SOBRE LUIZA TESTA: Luiza Testa é Bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e Mestre em Teoria Crítica (Critical Theory and the Arts) pela School of Visual Arts – New York, com a tese “De-socialização da esfera privada em ‘Um teto todo seu’” [The De-socialization of the Private Sphere in ‘A Room of One’s Own]. Esteve à frente da galeria onzedezesseis de 2010 a 2016.
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Após concluir seu mestrado, em 2017, foi estagiária no departamento de Curadoria do museu Solomon R. Guggenheim, em Nova York. Em seu retorno ao Brasil, trabalhou na área de produção cultural, em exposições como Ai Weiwei – Raiz e Anish Kapoor – Surge. Desde 2020, vem se dedicando ativamente à curadoria, sobretudo em projetos envolvendo debates sociais nos âmbitos de gênero, sexualidade, feminismo e arte digital. Além de atuar no segmento das artes visuais, Luiza é tradutora.
SERVIÇO:
Ah, Eu Amo As Mulheres Brasileiras
Visitação: Até 25 de fevereiro de 2024
Local: Museu de Arte Contemporânea de Niterói
Endereço: Mirante da Boa Viagem, s/nº, Boa Viagem, Niterói – RJ.
Horários: de terça a domingo, das 10h às 18h (entrada até as 17h30)
Ingressos: R$16 (inteira) e R$8 (meia-entrada)
Os ingressos podem ser adquiridos na bilheteria, ou pelo Sympla