O espetáculo “DESAMADA: UMA DRAMATURGIA POÉTICA” estreia no Sesc Belenzinho, em São Paulo, neste final de semana. Inspirada no livro homônimo do poeta, cientista social e mestrandu em antropologia, lançado em 2023 pelo Grupo Editorial Record, a performance propõe uma reflexão profunda sobre os sentimentos humanos, explorando as complexas dinâmicas entre o amor e o desamor, a solidão e as relações interpessoais. Com uma mistura de poesia, teatro e humor, a obra convida o público a imergir em experiências emocionais intensas e reflexivas.
Idealizada, escrita e protagonizada pelu própriu artista, a produção transcende o monólogo tradicional ao contar com a colaboração das dançarinas Talita Aia e Floreny Fregone, além da cantora Mai Guimarães. Sob direção de Midria e co-direção de Nicoly Soares, “DESAMADA” cria um ambiente acolhedor e íntimo.
“Desamada reflete diferentes momentos da minha trajetória no campo dos afetos — não apenas os afetivo-sexuais, mas sobretudo eles. Para nós, pessoas negras, o processo de nos enxergar e reconhecer no mundo é profundamente atravessado pelos efeitos persistentes da colonialidade sobre nossos corpos. Ouvir a ancestralidade, acolher os conselhos de uma Pomba Gira que me lembra que o amor já está aqui e que o prazer também me pertence é uma forma de desafiar o destino imposto pela narrativa da branquitude para nossas vidas.”
A performance se divide em atos que equilibram momentos de leveza com outros de maior profundidade, transformando a obra literária em uma vivência cênica imersiva. O foco está nas experiências afetivas de pessoas negras, com histórias que, além de pessoais, também ecoam questões coletivas e sociais. A equipe de criação, majoritariamente formada por mulheres negras, traz uma visão pessoal e íntima para a montagem.
Para Nicoly Soares, co-diretora e produtora executiva, o projeto “contempla várias narrativas de afeto e preterimento, que se entrelaçam e se reconhecem através da construção deste trabalho”. A frase “jamais esquecer que sou o primeiro e maior grande amor da minha vida” sintetiza a jornada emocional proposta por “DESAMADA”.
Em 2018, Midria ganhou destaque com a poesia “A Menina que Nasceu sem Cor” no programa Manos e Minas (TV Cultura). Em 2022, lançou o livro “Cartas de Amor para Mulheres Negras” participando da programação principal da FLIP, e em 2023, publicou “Desamada – Um corpo à espera do amor”, consolidando seu nome como uma das vozes mais relevantes da geração Z. Além de seus livros, dedica-se a apresentações de poesia falada e ao podcast Ainda Existirão Poesias no Fim do Mundo.
“Espero que as pessoas possam gargalhar, se emocionar, ouvir sua própria ancestralidade, se deliciarem com o espetáculo e, acima de tudo, nunca esquecer que o amor começa dentro de nós. Para isso, é fundamental abandonar as mentiras brancas que nos fazem acreditar que não somos merecedores de afeto. É preciso lembrar que dançar, cantar e fazer afirmações positivas sobre o amor como um direito nosso é, em si, um ato revolucionário. Isso cria novos mundos a partir dos nossos próprios corpos”.
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