“A besta fera dos cabelo negro” é a mais recente montagem da mineira Cia. JuntaosTrem de Teatro, com apresentações da peça, que tem como tema central o medo, neste sábado (14), às 16h, no Centro Cultural Zilah Sposito, em Belo Horizonte. Depois mais apresentações acontecem nos dias 18/12, às 19h, no Centro Cultural São Geraldo, e 19/12, às 19h, no Centro Cultural Usina de Cultura, e terá circulação até janeiro de 2025.
Marina Galeri, escritora e diretora da peça, diz que “Trata-se de um espetáculo teatral com linguagem popular, que valoriza a cultura mineira, enaltecendo a cultura afrodescendente por meio dos elementos do congado. Uma peça que mexe com a emoção do público, que inspira e leva a reflexão sobre o medo”, explica a dramaturga.
Além do espetáculo, a Cia. Juntaostrem também oferece três oficinas gratuitas em quatro centros culturais diferentes, sendo uma delas voltada para idosos. A entrada é gratuita e os ingressos estão disponíveis nos locais de apresentação. A classificação é livre e as apresentações têm intérprete de libras.
Esta é a segunda montagem da Cia. Juntaostrem. “Através de bom humor e uma história cativante de um viajante, o espetáculo traz a reflexão sobre como o medo pode nos impulsionar ou nos aprisionar”, revela Marina Galeri, diretora e dramaturga. A cena mostra um viajante que busca o medo, e à medida que vai andando pelo mundo se depara com situações que provocam este sentimento, é assim que o público se reconhece.
“À medida que o viajante encontra com algumas figuras em sua jornada em busca do medo, o público vai se reconhecendo nas situações que os personagens se encontram: o medo de ficar sozinho, o medo de ser feliz, o medo da morte, o encontro com a fé e a coragem, o ir com medo mesmo”, observa Galeri.
Uma característica da Cia. Juntaostrem é a exaltação do que é de Minas Gerais. “Toda a história vem embebida de muita mineiridade, exaltando a nossa rica cultura por meio do linguajar, da tradição, da oralidade e dos ‘causos’, do sincretismo cultural e religioso e elementos do congado mineiro”, conta Marina Linhares co-fundadora da cia e atriz do espetáculo. A presença do Congado no espetáculo é um tempero à mais.
“O Congado é uma manifestação tombada como patrimônio imaterial de minas Gerais em agosto de 2024, é importante a gente trazê-lo, mas muito importante também, ressaltar que ele é ancestral, que ele vem da cultura negra, que ele é resistência, sabe?”, afirma Galeri, a dramaturga da peça.
O ator e preparador corporal Gladyson Luiz observa que “desde a época das Minas de Ouro, os negros escravizados professavam sua fé através do Congado, dos cânticos, das rezas, da dança, da musicalidade, da percussão. Eles conseguiam manter, a sua fé, cultuar os seus ancestrais e isso veio resistindo ao longo do tempo, e hoje é uma das manifestações culturais mais fortes aqui de Minas”, diz. O ator Bén Johnson Pereira entende que o Congado, para além de uma expressão cultural é uma marca em sua vida.
“Eu vejo o congado voltando em minha vida após 20 anos. Em diversas vezes vi minha avó sendo coroada como Rainha, meu irmão pagando promessa e sempre usando as vestes. Nesta peça, o nosso corpo movimenta sobre as ondas do tambor, sobre os nossos medos, nossas inconstâncias e trabalhar isso no outro é tão profundo que chega a ser um universo que não tem limite. Como ator e preparador corporal nós vamos extraindo dos corpos a história e nuances dos nossos antepassados e marcando tudo aquilo que o grupo tem como característica: somos mineiros, somos raízes e terras”, atesta.
A montagem, que tem duração de aproximadamente de 45’, conta com seis atores no palco, Bén Johnson Pereira, Glaydson Luiz, Júnior Dias, Marina Linhares, Raphael Breno, Rogério Alves. A atriz Marina Linhares ressalta que “A besta fera dos cabelo negro” é um espetáculo criado, produzido e encenado por atores mineiros. “A peça é totalmente mineira e para o público mineiro, produzida com muito amor, dedicação e orgulho. Um enredo instigante com cores, música, humor e reflexão, capaz de agradar públicos de todas as idades”, atesta Marina Linhares.
Marina Galeri lembra que o texto foi escrito há doze anos. “O texto da peça é baseado num conto meu que foi escrito em 2012, e tem muito tempo que eu queria transformá-lo numa peça e consegui fazer isso só agora”, lembra. O espetáculo é baseado em vivências de Marina, assim como a primeira peça da Cia. Juntaostrem intitulada “Ô de casa! Uma peça-áudio-interativa”, escrita por Marina Galeri e Marina Linhares, apresentada para o público em 2023. “Trago no texto questões até familiares, algumas coisas que mexiam comigo e os personagens surgiram a partir disso. Doze anos depois do conto escrito, eu consegui separar esses personagens e transformar o conto em peça”, revela.
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