Nos últimos dias, uma “punição” no Big Brother Brasil (BBB) fez com que os participantes fossem para o “Tá Com Nada”, em que só podiam se alimentar de arroz, feijão e goiabada. Com 20 milhões de pessoas no Mapa da Fome no Brasil segundo o último levantamento, e mais de 30% da população em situação de pobreza, a historiadora e socióloga Gizele Oliveira dos Santos, reflete sobre as condições em que a população vive.
“Vivemos numa sociedade que milhares de pessoas não tem acesso ao básico, mas que são responsabilizadas pelo seu “fracasso”. Uma sociedade que vende a ideia de que “dinheiro não compra felicidade”, ora, seria isso não é uma contradição, tendo em vista do número expressivo de pessoas que não tem o que comer, não tem onde morar, não tem acesso a saúde”, pontua Gizele.
A socióloga ainda afirma que “a romantização da pobreza neste cenário apenas aprofunda o problema“, e sinaliza quais impactos podem ser gerados a partir disso.
“A forma como a pobreza é retratada e abordada na mídia contribui muito para a estigmatizarão e reprodução de estereótipos acerca das pessoas em situação de vulnerabilidade, sobretudo, dos grupos mais vulneráveis, como mulheres, trans e negras. Logicamente, que tudo isso irá depender do interesse, da intenção por trás. Ora a pobreza é tratada como uma espécie de “mal” a ser combatido, ora, como história de superação”, explica ela.
Conforme os dados divulgados pela Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, em fevereiro de 2024, o custo da cesta básica subiu em 14 das 17 capitais brasileiras analisadas. A mais cara do país foi encontrada no Rio de Janeiro, onde o conjunto dos alimentos básicos custava em média, no mês de fevereiro, em torno de R$ 832,80.
A Economista da Universidade de São Paulo (USP), Andreza da Silva Pereira da Conceição, faz um alerta sobre o número de pessoas que vivem em insegurança alimentar.
“Embora o “Tá com nada” possa refletir certos aspectos da realidade, é importante lembrar que o programa é, em última análise, uma forma de entretenimento. Para transformar essa realidade, é crucial a manutenção e expansão de programas de redistribuição de renda, a promoção de empregos de qualidade e o aumento real dos salários“, afirma ela.
O NP também conversou com o economista Wallace Borges sobre a possibilidade de reverter esse quadro com algumas medidas governamentais.
“Apenas uma reforma tributária pode solucionar o acesso aos alimentos. O fortalecimento de movimentos como o MST que vendem produtos de alta qualidade com preço competitivo também podem ajudar a baratear produtos usados na alimentação das pessoas”, afirma o economista que afirma que não há relação entre o salário mínimo e o custo da cesta básica.
“Ambos flutuam livremente. O impacto é que como tanto o preço da cesta básica quanto do salário são flutuantes sempre haverá dificuldade em se realizar um planejamento alimentar que gere segurança alimentar“.
Para Andreza, essa relação existe, e explica como isso gera um impacto na qualidade de vida das famílias.
“Em contextos onde a renda é limitada, uma parcela significativa dela é direcionada para despesas básicas, como alimentação. Portanto, um aumento nos preços dos alimentos resulta em uma perda de renda real para as famílias, já que uma maior proporção de sua renda é destinada a comprar os mesmos itens essenciais“, fala a economista.
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