Grupo é composto por lideranças comprometidas com agendas de interesse público e de impacto social de todo o país e potencializado pela Fundação Lemann a partir de encontros, formações e oportunidades de conexão e desenvolvimento profissional
Cerca de 400 membros da Rede de Líderes da Fundação Lemann, de todas as regiões do país, se
reuniram em São Paulo para o tradicional Encontro Anual de Líderes, maior evento institucional da organização, que pelo segundo ano teve como tema “A nossa conexão transforma o Brasil”. O objetivo do evento é promover integração e troca de experiências entre os integrantes da Rede, grupo formado por mais de 700 lideranças comprometidas com agendas de interesse público e de impacto social em
diversas áreas de atuação de todo o país, além de oportunidades de conexão e desenvolvimento profissional.
Durante dois dias (29 e 30/11), os membros da Rede puderam participar de 6 palestras principais e 25 salas paralelas (realizadas de forma concomitante) para discussão de temas como carreira profissional,
inteligência artificial, educação, equidade étnico-racial e mudanças climáticas. Ao todo, participaram mais de 40 palestrantes.
Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann, abriu o segundo dia e destacou como as redes e conexões podem superar desafios e transformar o país. “Por que o Brasil conseguiu tanto sucesso em algumas áreas? Porque um grupo de pessoas se juntou e falou que ia resolver o problema. Pessoas como gestores públicos, membros da sociedade civil e financiadores se organizaram, e são responsáveis por novas mudanças”, disse.
Mizne lembrou as duas faces do Brasil, onde apenas 10% dos jovens terminam a
escola sabendo matemática no nível adequado e que ainda convive com grande parte da sua população sem saneamento básico, e aquela que reduziu a mortalidade infantil, duplicou a renda per capita e aumentou o número de jovens no ensino superior. “Como vamos usar nosso recurso mais precioso — que são nosso tempo, conexões, dedicação e emoção — para transformar o Brasil? Esse encontro é sobre isso: gerar conexões que transformam”, completou.
Os diferentes pensamentos e trajetórias marcaram a plenária “Conexões e Soluções para Desafios Brasileiros”, que abordou propostas para grandes desafios do setor público e social, como o
funcionalismo, o racismo estrutural e a equidade de gênero no país. A mediação do debate foi da diretora de Mobilização da Fundação Lemann, Clarissa Malinverni. Fernanda Pacobahyba, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), trouxe um pouco da sua visão do funcionalismo público, como servidora há quase 30 anos, e da importância da conexão entre pessoas no setor.
“O serviço público brasileiro não precisa se reinventar, ele precisa ser inventado. Porque “servir ao público” é diferente do que a gente vê no serviço público hoje, que pode acabar afastando a sociedade. Eu acho que a gente está num processo. Busquei na Secretaria de Fazenda do Ceará trazer essa conexão das pessoas para o ideal de servir. Acho que isso resolve grande parte dos nossos problemas”, explicou.
Helio Santos, presidente do Conselho Deliberativo da Ofxam, relembrou o histórico da lei de cotas nas universidades e trouxe o elemento racial para a discussão sobre políticas públicas. “O racismo no Brasil
não é apenas uma questão de desigualdade. Eu costumo dizer que o maior entrave para o desenvolvimento sustentável no Brasil não é só a desigualdade social, econômica ou ambiental. Existe algo que chamo de desigualdade moral. Enquanto o Brasil não reduzir esse abismo, não haverá progresso sustentável”. E complementou: “Somos um país gigante, mas temos sonhado baixo. O Brasil tem potencial para sonhar alto e de forma mais adequada”.
A deputada federal Soraya Santos (PL-RJ), atual Procuradora da Mulher da Câmara dos Deputados, exemplificou como a atuação integrada entre diferentes órgãos pode fazer avançar políticas de equidade de gênero.
“Não podemos falar de um Brasil que tenha acesso à informação sem trabalhar em rede. A nossa procuradoria, por exemplo, já trabalha em conexão com as câmaras de vereadores e com as
assembleias legislativas, formando parcerias em todo o país. Levamos também a Defensoria Pública, o Tribunal de Justiça e outras entidades para formar e capacitar mulheres, especialmente as que vivem em áreas de classes D e E. São mais de 250 mil sendo atendidas. Estamos garantindo que essas mulheres, em sua maioria, não sejam mais vítimas de desigualdade”, disse.
Aneliza Ruas, Procuradora-Geral da Fazenda Nacional, também falou sobre como transformar a realidade em um cargo altamente burocrático: “A revolução está no impacto social. Apesar dos desafios, é gratificante saber que, de alguma forma, estou contribuindo para transformar o mundo a partir do meu campo de atuação”.
Também foram realizadas salas simultâneas de discussões sobre temas como: educação, liderança, inteligência artificial, equidade racial, orçamento público e clima e saúde.
Na temática de educação, um dos pilares de atuação da Fundação Lemann, foi discutida a importância de se trabalhar com base em dados e evidências na mesa “Transformando Dados em Ações – Estratégias para a Educação Pública”. Participaram o professor de Educação da Universidade Stanford, Guilherme Lichand, e o secretário de Educação de Joinville (SC), Diego Calegari, com intermediação de Carolina
Ilídia, gerente de Educação da Fundação Lemann. Calegari e Lichand foram categóricos ao afirmar a necessidade de desenvolver uma cultura de dados nas redes de ensino para potencializar o aprendizado dos estudantes.
“Cincinnati, uma cidade americana, não tinha bons resultados na educação. Fez avaliações sistemáticas por três anos, mas nada mudou, porque os professores não sabiam o que fazer com os resultados.
Depois disso, os professores passaram a ter fichas de cada aluno com seus resultados, juntaram alunos nos mesmos estágios de aprendizado e fizeram experimentos. A cidade passou à primeira do estado (de Ohio)“, contou Lichand.
Já Calegari destacou como os dados entraram no dia a dia dos docentes: “Antes de tudo, eles precisaram entender por que isso é importante no trabalho. Teve um movimento gradual de conquistar a confiança das equipes, pois as pessoas não estão equipadas nem com a visão nem com as ferramentas para usar dados“, disse.
Na temática de liderança, outra área de impacto da organização, o tema escolhido foi a relação entre o conceito de autoconhecimento e de liderança coletiva. “A maneira que um líder comunitário lida com as
questões no seu íntimo vai facilitar ou dificultar a maneira com que essa ação reverbera no coletivo. Não existe boa liderança comunitária se ele não for um líder de si mesmo”, afirmou Kaká Werá, escritor indígena e membro da Rede de Líderes desde 2018, em conversa com a diretora sênior da Business Finland para a América Latina, Heidi Virta. A mediação do bate-papo foi de Janiele Paula, gerente de Lideranças da Fundação Lemann.
O evento ainda promoveu dinâmicas em grupo, como workshops, um hackathon sobre mudanças climáticas e rodas de conversa sobre carreira em diferentes segmentos de atuação – governos, organismos multilaterais, terceiro setor, empreendedorismo social e setor privado. Além disso, integrantes da Rede de Líderes apresentaram projetos inovadores em áreas como colaboração intersetorial, carreira e desigualdades e políticas públicas e justiça.
A última plenária recebeu integrantes da Rede de Líderes que trabalham na política para discutir a geração de impacto por meio do Poder Executivo e Legislativo. Participaram Abidan Henrique, vereador
reeleito em Embu das Artes (SP), Lucielle Laurentino, prefeita reeleita de Bezerros (PE), Kayo Amado, prefeito reeleito de São Vicente (SP) e Maria Tereza, secretária Municipal de Educação de Londrina (PR) e
segunda colocada para a prefeitura do município. Luciana Novaes, gerente de Marca e Posicionamento da Fundação Lemann, mediou o debate.
LÍDERES PREMIADOS – GENTE QUE TRANSFORMA
Pela primeira vez, foi realizado o Prêmio Gente que Transforma, iniciativa para reconhecer lideranças e projetos da Rede de Líderes Fundação Lemann que estão impulsionando transformações no Brasil. Foram premiados líderes em sete categorias.
* Combate às mudanças climáticas – Gabriel Fajardo
Atua no fortalecimento da governança climática no Rio Grande do Sul, conectando sociedade civil, ciência e governo para desenvolver soluções inovadoras e enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
* Equidade Racial – Patricia Santos
É uma líder pioneira na promoção da diversidade étnico-racial no mercado de trabalho. Com mais de duas décadas de experiência, ela fundou a EmpregueAfro, uma consultoria que se dedica a incluir talentos negros em empresas e a construir um ambiente corporativo mais inclusivo e representativo.
* Saúde com Humanidade – Jósimo Constant
Nascido na aldeia Barão, Terra Indígena Puyanawa, atua como antropólogo e professor na área de saúde indígena. Com raízes profundas na sua cultura indígena e uma visão de saúde integral, lidera ações que promovem a saúde indígena de forma humanizada e respeitosa.
* Sociedade com Inclusão – Ronaldo Tenório
Fundador da Hand Talk, é um líder inovador que, ao longo de sua trajetória empreendedora, tem utilizado a tecnologia para transformar a vida de milhões de pessoas. Seu trabalho é um exemplo de como a tecnologia pode ser usada para promover a inclusão social e melhorar a qualidade de vida.
* Setor Público com Inovação – Catarina Correa
É juíza criminal e referência em Justiça Restaurativa, combina décadas de experiência com um profundo compromisso de transformar a relação entre Estado e sociedade. Sua trajetória é marcada por
inovações que impactam diretamente a segurança pública e a vida comunitária.
* Educação com Excelência – Katia Smole
É professora, formadora e líder em educação com uma trajetória de mais de 38 anos, impactando diretamente professores, alunos e políticas públicas. Sua visão combina inovação pedagógica, diversidade
cultural e excelência em ensino.
* Inovações Acadêmicas Transformadoras – Daiesse Bomfim
Coordena a obra coletiva “Políticas Afirmativas de Inclusão e Equidade Racial”, que reúne grandes vozes e especialistas sobre o impacto das políticas afirmativas no Brasil. Com uma abordagem crítica e construtiva, busca soluções práticas e acadêmicas que promovam um Brasil mais inclusivo.
Sobre a Fundação Lemann
A Fundação Lemann é uma organização de filantropia familiar, autônoma, independente e apartidária, que acredita nas pessoas como impulsionadoras de transformações positivas para o Brasil. Atuamos
por meio de um ecossistema de organizações e pessoas que estão comprometidas em desenvolver e apoiar lideranças diversas com capacidade de dialogar e buscar soluções para enfrentar os desafios
complexos do nosso país, e fortalecer a educação pública, especialmente a alfabetização e os anos finais do Ensino Fundamental.
Nosso compromisso é contribuir para a construção de um país mais justo, desenvolvido e menos desigual, com garantia de equidade étnico-racial e de gênero em todas as esferas da sociedade.
Em mais de 20 anos de atuação, apoiamos diretamente a educação pública de milhões de estudantes, ajudamos a formar milhares de lideranças e fomentamos uma rede de líderes que, atualmente, conta com
mais de 700 pessoas atuantes nas áreas da saúde, educação, gestão pública e terceiro setor. Também criamos centros internacionais e nacional de excelência na geração de conhecimento para impulsionar
áreas estratégicas do país, aplicado em educação, tecnologia e gestão pública.