Eduardo Paiva carrega em sua trajetória profissional e pessoal a força de quem acredita no poder da transformação. Filho de pais maranhenses, cresceu inspirado pela determinação da mãe, que voltou aos estudos depois de adulta para se tornar assistente social, e pelo foco disciplinado do pai. Esses exemplos familiares moldaram não apenas sua visão de mundo, mas também seu compromisso com a equidade racial.
Engenheiro agrônomo de formação, Eduardo trilhou um caminho não linear até chegar ao posto de Head de Diversidade, Equidade e Inclusão do Grupo L’Oréal no Brasil. Sua jornada é marcada por desafios, aprendizados e a certeza de que ocupar espaços de liderança vai muito além do sucesso pessoal: é sobre abrir portas para que outros possam passar.
Nesta entrevista ao Notícia Preta, Eduardo fala sobre sua transição de carreira, os desafios enfrentados ao longo do caminho e a importância de ter pessoas negras em posições estratégicas dentro das grandes corporações. Mais do que números e resultados, sua história reflete humanidade, propósito e um compromisso inabalável com a construção de um futuro mais inclusivo e representativo.
Como foi o processo de transição do mercado de alimentos para a indústria de beleza e bem-estar? Quais desafios você encontrou e como os superou?
“Acredito em trajetórias não lineares e minha trajetória até aqui tem sido um reflexo disso. Sempre fui curioso e aberto ao aprendizado nas diversas fases da minha vida. Sou engenheiro agrônomo de formação, fui bolsista na França em um programa de diplomação pela Universidade de São Paulo (USP) e retornei ao Brasil focado em construir minha carreira na área de marketing no mercado de alimentos”.
A jornada de Eduardo no Grupo L’Oréal começou há cinco anos, no marketing de uma das marcas da divisão de produtos dermocosméticos, a L’Oréal Beleza Dermatológica. “A transição para esse universo não era óbvia, mas se tornou mais fácil a partir da descoberta do potencial do segmento de beleza: um instrumento de empoderamento individual e de expressão coletiva. A L’Oréal é uma empresa que te permite construir a sua própria jornada e isso tem me proporcionado diversas oportunidades de crescimento, com novos caminhos de carreira surgindo. Essa minha trajetória até a posição atual como Head de Diversidade, Equidade e Inclusão reflete a própria transformação da empresa, que abre espaço para novas possibilidades’, conta.
Eduardo conta que durante sua carreira ele percebeu a falta de equidade racial nos espaços de liderança e isso influenciou suas escolhas profissionais.
“Embora tenha tido acesso a oportunidades na educação e a vantagens que me abriram portas, a falta de representatividade negra e plural marcou minha trajetória profissional por um bom tempo. Como homem negro de pele clara e gay, a busca por pertencimento foi acompanhada por um sentimento de inadequação, o que me levou a buscar compensação através de uma alta performance. A virada de chave aconteceu quando reconheci que o meu “não lugar” era, na verdade, uma habilidade valiosa para navegar em ambientes diversos, me permitindo uma perspectiva única. E mais que isso, perceber que eu poderia inspirar e abrir portas para outros, me tornando uma referência, tem sido transformador”.
Nos últimos anos, Eduardo tem se dedicado a criar iniciativas que vão além do discurso e geram impacto real. “As empresas precisam entender que diversidade e inclusão não são apenas valores éticos, mas também estratégicos. Negócios mais diversos são negócios mais inovadores e resilientes. Na L’Oréal, estamos comprometidos em criar programas que vão desde o recrutamento inclusivo até o desenvolvimento de lideranças diversas.”
Ele ressalta que um dos principais desafios é garantir que esses programas não sejam ações pontuais, mas estruturais. “É preciso que haja continuidade, responsabilidade e acompanhamento. Iniciativas isoladas não mudam realidades. Nós queremos transformar as estruturas, garantindo que cada pessoa, independentemente de sua origem, cor ou orientação, tenha acesso às mesmas oportunidades.”
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Eduardo também compartilhou como sua trajetória pessoal influencia diretamente suas ações no ambiente corporativo. “Acredito muito no poder do exemplo. Ao ocupar um espaço de liderança, eu me torno um símbolo de possibilidade para outros profissionais negros e LGBTQIA+. Isso carrega uma responsabilidade, mas também um privilégio. Quero que outras pessoas se vejam nesses espaços e saibam que também podem chegar lá.”
Para o futuro, Eduardo é otimista, mas realista quanto aos desafios que ainda precisam ser enfrentados. “Precisamos continuar provocando diálogos, rompendo silêncios e desafiando o status quo. O mundo está mudando, mas essa transformação precisa ser acelerada. Empresas têm um papel fundamental nesse processo e, mais do que nunca, devem ser parte ativa da solução dos problemas que a sociedade enfrenta.”
Com sua experiência, Eduardo Paiva segue construindo pontes, abrindo portas e reforçando a mensagem de que diversidade e inclusão não são apenas tendências, mas pilares essenciais para um futuro mais justo e sustentável.