Um estudo, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) nesta terça feira (23), mostra que 77,5% dos casos graves de coronavírus são de pessoas pretas em todo estado. Em 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o percentual de pessoas negras no estado estimado era de 66,8%, ou seja, 10 pontos percentuais a menos que o percentual de negros infectados com a Covid-19. Especialistas apontam a desigualdade social como um dos principais fatores para esta diferença, tendo em vista que o nível de renda e escolaridade estão abaixo das pessoas brancas, por exemplo. No Recife, a situação é muito parecida com o restante do estado. Já a capital, tem uma média que varia entre 75% e 76% de casos de coronavírus registrados em pessoas negras.
Dados gerais
Quando analisados no geral, alguns dados apresentam uma lacuna de valores, trazendo a realidade por etnia parcialmente. Dos 17.976 casos graves registrados em todo o estado, segundo a SES-PE, 61,6% tiveram o critério de raça/cor ignorado ou deixado em branco, o que representa mais de 11 mil casos não declarados. No Recife, esse percentual alcançou 75,3%, ou seja, 5.217 registros em branco.
Números e pessoas
Mesmo mostrando em números esse “vazio”, os valores registrados falam por si. Somente o bairro Várzea, zona oeste da capital Pernambucana, até o dia 18 de junho, registrava 59 mortes e 279 casos graves. Segundo a cientista social Joice Paixão, coordenadora do Gris Espaço Solidário, “a maior parte da população pobre na área é de pretos e pardos”, atestou. Ainda segundo Joice, a Vila Arraes, uma Zona Especial de Interesse Social (Zeis) já registrou 15 mortes por Covid-19 e outras 12 causadas pela Síndrome Respiratório Aguda Grave (Srag), sem confirmação para coronavírus. “Trabalhamos com 72 famílias, mas com a pandemia ampliamos a distribuição de cestas básicas, kits de higiene e máscaras”, relatou.
Acolhimento para famílias
De acordo com Joice, o Espaço Solidário realiza um trabalho de acolhimento e apoio pedagógico a crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos, além das famílias deles. “Uma mãe que estava na fila para pegar uma cesta teve confirmação de Covid-19. Por isso, agora, só entregamos com hora marcada, para evitar filas”, afirmou.
Joice afirma ainda que a desigualdade social na vila é agravada pela questão racial. “Aqui perto, temos uma família de 11 pessoas, negras, que mora em uma casa de quatro cômodos. Não tem como esse pessoal fazer isolamento social”, alertou. Ainda de acordo com a coordenadora, as casas as casa não têm rede de abastecimento d’água. “Uma vizinha nossa teve que carregar água para usar em casa, de uma rua para outra. Só nesse trajeto tivemos seis casos graves de Covid-19. Então, ela precisou se expor para ter acesso a uma coisa básica, que é água”, finalizou Joice.