Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na última terça-feira (25) revela que o número de internações de bebês por desnutrição, em 2021, é o maior dos últimos 14 anos. Ao todo, chegou a uma média de oito crianças diariamente levadas aos postos de atendimentos por falta de comida, 11% a mais do que o registrado em 2008, o primeiro ano da série histórica.
O levantamento, realizado a partir de dados do Ministério da Saúde e em parceria com a Unifase de Petrópolis, mostra ainda que, em números absolutos, foram 2.939 crianças de até 1 ano que ficaram internadas no ano passado devido à alimentação inadequada, totalizando 113 internações para cada 100 mil nascimentos.
Ainda de acordo com o levantamento, a situação mais crítica foi registrada na região Nordeste, com 51% a mais que a taxa nacional. Segundo o levantamento, mesmo com aumento nas internações por desnutrição, a taxa de mortalidade infantil não aumentou no último ano.
Negacionismo alimentar
Em agosto deste ano, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), disse que “não existe fome no Brasil da forma como é falado”. A declaração do mandatário do Executivo foi em uma entrevista ao programa Pânico, da Rede Jovem Pan de rádio. Ainda segundo o presidente, no Brasil não se vê pessoas passando dificuldades. “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô”, afirmou.
Já no mês de setembro, foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes, dizer que existe um exagero quando se fala em fome no Brasil. Em um evento realizado na Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, em São Paulo, Guedes questionou os números da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), que mostra mais de 33 milhões de brasileiros têm algum tipo de insegurança alimentar de moderada a grave.
“33 milhões de pessoas passando fome é mentira. Nós estamos transferindo para os mais pobres, com o Auxílio Brasil, 1,5% do PIB, 3 vezes mais do que recebiam antes. É impossível ter 33 milhões de pessoas passando fome. Por mais que tenha havido inflação, não foi 3 vezes mais. O poder de compra está mais do que preservado por essa nova transferência de renda”, disse o ministro no evento.