Lançando seu novo álbum, Deize Tigrona diz, em entrevista ao NP: “Eu quero ser lembrada”

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A cantora Deize Tigrona retornou aos palcos com o novo álbum intitulado “Foi Eu Que Fiz”, no dia 23 de setembro. Após 10 anos fora dos holofotes e quatorze sem lançar um álbum de inéditas – desde “Garota Chapa Quente”, de 2008 –, dessa vez muito mais livre e amparada por equipe, produtora e empresário, ela entrega batidas de funk e eletro no novo álbum. Além disso, o material conta com diversos produtores dos mais variados ritmos como JLZ, DJ Chernobyl e Francês Beats.  

Referência de funkeira dos anos 90, Deize recebeu reconhecimento já naquela época, o que tornou possível suas parcerias internacionais, incluindo apresentação com a rapper M.I.A e performance no Rock In Rio de Lisboa, Portugal em 2008.

Deize Tigrona

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Aqui no Brasil, ela foi uma das pioneiras no ritmo, sempre entregando letras marcantes que empolgavam não só a audiência de onde veio, na comunidade Cidade de Deus, do Rio de Janeiro, como também todo o país.

O Notícia Preta conversou com Deize Tigrona para entender, sob seu próprio ponto de vista, como é o sentimento de voltar aos palcos, a produção do álbum e o que ela espera com o lançamento.

Confira:

Notícia Preta: Como se sente em voltar depois de todo esse tempo fora da indústria? Quais as expectativas?

Deize Tigrona: Eu me sinto feliz e surpresa com essa receptividade do pessoal, dos fãs. E não é que eu fiquei fora da indústria, eu fiquei sem lançar um disco, uma junção das minhas músicas, mas estive lançando umas e outras faixas por aí, né? Quando eu parei mesmo tem muito tempo atrás, que eu dei uma travada legal, mas depois disso sempre estive lançando algo.

NP: Existe alguma conexão entre o último álbum de inéditas e o novo?

DT: Sim, existe conexão. Existe porque tem muitas músicas no primeiro álbum que não foram divulgadas, né? Ou foram, só que na voz de outros artistas e na minha não. Então, tem e muitas músicas de lá que fizeram sucesso na voz de outras pessoas e quando eu ia fazer os shows, cantava as minhas músicas, ainda tinham pessoas que tocavam nesse assunto de que eu estava cantando música dos outros. Então, tem essa conexão, a conexão é esse título do álbum, que é ‘Foi eu que fiz’.

NP: Esse álbum conta com sete faixas, mas muita gente por trás. Como foi trabalhar com todas essas pessoas na preparação do “Foi eu que fiz”?

DT: Verdade, esse álbum tem sete faixas e com muita gente por trás. E é isso, né? A indústria hoje da produção musical é um fomento de trampo com uma grande variedade de pessoas. Então, foi necessário escolher cada um e neste álbum estão JLZ, DJ Chernobyl, Francês Beats, entre outros produtores. Fora o pessoal da gravadora, da Batekoo, da MAP, que é gente pra caramba mesmo.

E eu fico feliz que eles tiveram paciência e eu também. A questão foi ter paciência, não só eles comigo, mas eu com eles também, né? Porque não estou acostumada a trabalhar com produtora, né? Mas foi gostoso. É bom demais conhecer pessoas novas.

NP: São 14 anos longe dos holofotes porém mais de 10 de carreira também. É um sentimento novo voltar depois desse tempo ou têm algo de familiar nesse comeback?

DT: Bom, sempre há uma novidade, né? Quando eu iniciei não tinha esses aplicativos, não tinha essas plataformas todas. Então, há algo novo realmente nessa volta. E esse ‘novo’ hoje em dia, ele é bem mais abrangente, ele envolve mais pessoas trabalhando, envolve prêmios, e que o nosso funk realmente está indo por outra direção. Então, essa minha volta realmente só tem algo de familiar com o meu início, né? O início que me trouxe até aqui. Então, mesmo com esse tempo parada, essa volta soa como algo familiar, com certeza.

NP: Você continuou escrevendo músicas enquanto estava longe dos palcos?

DT: Sim, eu continuei escrevendo. Em 2012, eu escrevi ‘Prostituto’, depois escrevi ‘Madame’, ‘Vagabundo’. Escrevi com a Larinhx, a ‘Sexo, Internet & Funk’ e ‘Toca DJ’. Eu continuei escrevendo, não só escrevendo músicas, mas como voltei a escrever a minha autobiografia. Dei um tempinho, mas escrevi babado (risos).

NP: Conte sobre uma das composições do novo álbum que é muito especial pra você?

DT: Eu poderia falar de todas aqui, né? Que são todas especiais pra mim, mas eu vou falar sobre ‘Monalisa’. E muita gente fala sobre ‘Monalisa’ ser um funk de uma escrita diferente de tudo que eu já escrevi, mas a música tem o toque da residência artística que eu fiz no MAM. Então, eu elaborei essa escrita e vivi também um um sentimento bem chato que doeu bastante e resultou nela, e aí que surgiu a parte “Você me magoou!”.

NP: Você assinou com Batekoo em 2019, mas logo veio a pandemia. Como foi segurar a expectativa do lançamento de algo novo por todo esse tempo? O conceito do álbum foi repensado nesse meio tempo ou a ideia geral permaneceu?

DT: Eu assinei com a BATEKOO e logo veio a pandemia, mas antes disso a gente conseguiu fazer a turnê para a Europa e lançar ‘Vagabundo’ e ‘Sexo, Internet & Funk’. Mas foi complicado segurar essa expectativa do álbum e eu estava passando também por um processo familiar e tem um tempo pra tudo, né? Acabei indo para o Nordeste ficando uns seis meses, me escrevi em editais que não passei, então eu fiquei de boa esperando o tempo das coisas. O conceito do álbum mudou um pouco, né? Eu mudei. Tem muitas escritas de primeiro momento, que não estão nesse disco. Então, realmente eu mudei algumas coisas e que bom que a BATEKOO entendeu. Então assim, nem todas, nem todo conceito permaneceu, mas a maioria tá ali.

NP: Como foi criar um álbum inteiro depois de muito tempo não desenvolvendo esse tipo de rotina?

 DT: Olha, sinceramente, foi bem intenso criar esse álbum porque realmente há muitas pessoas envolvidas. No caso, tem a produtora e a gravadora com muitas ideias. E foi realmente um jogo de paciência porque durante esses anos todos eu nunca trabalhei com uma produtora, com empresário. Então, quando eu me peguei nesse momento tendo de trabalhar com várias pessoas, eu vi realmente que o funk estava em um outro momento, mas um momento bom, né? E assim, a maioria do pessoal é mais nova do que eu, então o que salvou legal foi a paciência de ambas as partes. E assim, criar e compor música é uma coisa, né? Agora estar com uma galera produzindo e com várias cabeças pensando juntas é outra totalmente diferente, né?

NP: O lançamento do álbum foi no dia 23 de setembro, Dia Mundial da Visibilidade Bissexual. Por que a data é tão significativa pra você e qual a relação dela com o álbum? 

DT: Sim, o álbum foi lançado dia 23 de setembro e a data realmente é muito importante, até mesmo por uns processos bons que eu passei na minha vida pessoal, óbvio. E que eu tive a liberdade de conversar com os produtores, com o pessoal da BATEKOO, com meus filhos… E tem a ver com o álbum também, que foi onde eu escrevi e decidi pôr nele a música ‘Sururu das meninas’. Mas antes dessa eu já tinha lançado uma outra letra falando sobre relação entre meninas, só que não foi divulgada.

NP: E falando em festividades internacionais, você é conhecida por ter muitas experiências internacionais com artistas de renome, como DJs e cantoras pop. Suas músicas estão voltando a bombar, agora em plataformas como o TikTok. Acha que isso é um indicativo que sua carreira pode se expandir para além do Brasil mais uma vez?

DT: Ah, com certeza! Com certeza a minha carreira nunca foi esquecida lá fora, né? Porque quem lembra sabe que eu bati muito nessa tecla de querer ficar na Europa para fazer mais datas da turnê, para fazer mais feats com outros DJs e artistas lá fora. Então, com o álbum não é só um indicativo, isso já está em andamento, com certeza. O internacional vem aí.

NP: O que significa esse retorno à indústria para você?

DT: Esse retorno a indústria musical significa pra mim que eu estou forte, significa que mesmo eu tendo tido essa parada eu continuei acompanhando o mercado, entendeu? Eu costumo dizer que sou afrofuturista e escrevo às vezes sem saber que estou prevendo um futuro próspero, não só pra mim, mas para outras pessoas também. Então, significa persistência pra mim, né? É a resistência e a saúde que a gente tem que brindar.

NP: Quando você anunciou a pausa, disse que foi para tratar as questões pessoais. Essas questões, agora melhor trabalhadas dentro de você, aparecem no álbum de alguma maneira?

DT: Essas questões estão bem trabalhadas, graças a Deus, mas em tudo existem altos e baixos. Foi uma pausa por causa de um problema familiar e da depressão também, né? E isso aparece no álbum sim, aparece quando eu digo que as músicas ali significam liberdade, não só pra mim, mas pra outras pessoas também, principalmente mulheres.

NP: Como Deize Tigrona gostaria de ser lembrada a partir de agora, com esse novo começo?

DT: O que eu posso dizer é que eu quero ser lembrada! Quem lembra lá do passado, que bom, mas que acompanhe e que continue me observando de um modo bom. E é isso, eu sou cheia de expectativas, inspirações e eu me sinto uma pessoa boa. Ai, tá, sei lá, bota aí fodona (risos).

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Brenda da Rosa

Brenda da Rosa

Brenda da Rosa é estudante de Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, nascida em Porto Alegre e moradora da região metropolitana. É apaixonada por Fórmula 1, romances água com açúcar e conversas de bar.

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