A defesa dos dois homens indiciados por feminicídio no caso que resultou na morte de Alice Martins Alves, mulher trans de 33 anos, contestou a conclusão da investigação policial e afirmou haver uma inconsistência central na autoria do crime. Segundo as advogadas Susan Santos e Luciana Rezende, os acusados são homens negros e de baixa estatura, enquanto o agressor descrito pela própria vítima em boletim de ocorrência seria um homem branco e alto.
Alice registrou a ocorrência em 5 de novembro, cerca de duas semanas após as agressões sofridas na madrugada de 23 de outubro, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte. No documento, ela descreveu o agressor como “alto, de cor branca, cabelos castanhos ou pretos, trajando calça jeans e blusa preta”. O registro também aponta que duas pessoas que acompanhavam o agressor teriam presenciado a violência e reagido com deboche, mas sem descrição física detalhada.

Em nota, a defesa afirma que não há provas concretas que vinculem os clientes aos fatos investigados e que a descrição fornecida pela vítima não corresponde às características dos indiciados. As advogadas alegam que esse elemento foi desconsiderado ao longo da apuração, o que, segundo elas, fragiliza a acusação.
Um dos indiciados, de 20 anos, afirmou em entrevista que vive recluso desde que o caso ganhou repercussão. Ele reconhece que cobrou de Alice o pagamento de uma conta de R$ 22 no estabelecimento onde trabalhava, mas nega qualquer agressão. Segundo seu relato, os ruídos apontados pela Polícia Civil como socos e chutes seriam, na verdade, o som do salto da vítima no chão. O jovem declarou acreditar que foi indiciado por ser “preto e pedreiro”, o que o tornaria mais vulnerável no processo.
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A Polícia Civil informou que o caso é investigado como feminicídio pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios (Neif) e que não comenta inquéritos já concluídos e enviados ao Ministério Público e à Justiça. O Ministério Público foi procurado, mas não se manifestou até a publicação desta matéria.
Alice Martins morreu no dia 9 de novembro, após semanas de internação. Ela sofreu fraturas nas costelas, perfuração no intestino e outras lesões graves, vindo a óbito por choque séptico. A família aponta negligência institucional e destaca a vulnerabilidade histórica de pessoas trans no Brasil, país que lidera os índices globais de assassinatos dessa população, segundo organizações de direitos humanos.









