Em entrevista à BBC, uma mãe nigeriana relatou o arrependimento de ter usado cremes de clareamento de pele em seus seis filhos, que agora sofrem com queimaduras e cicatrizes permanentes na pele. Segundo Fátima – nome fictício para preservar a identidade da mulher -, o motivo para tentar clarear a pele de seus filhos foi a pressão familiar e a busca pela aceitação. “Minha irmã deu à luz crianças de pele clara, mas meus filhos têm pele mais escura. Percebi que minha mãe favorece os filhos da minha irmã em detrimento dos meus devido ao tom de pele deles e isso me magoou muito”.
Inicialmente, os cremes comprados em um supermercado local, na cidade de Kano, sem prescrição médica, pareciam funcionar. No entanto, logo surgiram as queimaduras e cicatrizes na pele de seus filhos, conforme aponta a entrevista à BBC.
Fátima não é uma exceção. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 77% das mulheres da Nigéria utilizam regularmente produtos para o branqueamento da pele, o que equivale a aproximadamente 8 em cada 10 mulheres do país.

Em outros países africanos, os índices também são alarmantes: no Congo-Brazzaville, 66% das mulheres recorrem a esses produtos; no Senegal 50%; e em Gana, 39%.
Em 2024, autoridades de Gana, precisaram alertar as mulheres grávidas sobre o consumo de pílulas clareadores contendo glutationa, um antioxidante presente em muito desses produtos. As gestantes acreditavam que o uso do produto na gestação, poderia clarear a pele de seus bebês.
Os riscos de usar produtos para branqueamento da pele
Os efeitos colaterais do uso de produtos sem prescrição médica para clareamento da pele podem ser graves. De acordo com a OMS: dermatite, acne e descoloração da pele são possíveis consequências, mas também podem haver distúrbios inflamatórios, envenenamento por mercúrio e danos renais. Além disso, a pele pode ficar mais fina, o que faz com que as feridas demorem mais para cicatrizar e tenham maior probabilidade de infeccionar.
Isso pode acontecer, devido os ingredientes nocivos encontrados nos cremes clareadores, como: corticosteroides, hidroquinona, ácido kójico e a glutationa. Esses componentes podem causar reações adversas, como erupções cutâneas e distúrbios mais graves. O mercúrio, por sua vez, presente em algumas fórmulas, pode levar a sérios problemas de saúde, incluindo danos nos rins, manchas permanentes na pele, diminuição da imunidade, ansiedade, depressão e até psicose.
A indústria bilionária do clareamento de pele
A busca pelo clareamento da pele enriquece uma indústria bilionária de cremes que prometem uma ´´aparência mais clara´´.
Em 2017, o mercado de produtos clareadores foi avaliado em US$ 4,8 bilhões (cerca de R$ 18 bilhões), com projeções indicando que esse número pode dobrar até 2027. A maior parte da demanda vem de consumidores de classe média na Ásia e na África, com produtos como sabonetes, cremes, esfoliantes, pílulas e até injeções destinadas a reduzir a produção de melanina – o pigmento responsável pela coloração da pele.
Apesar de países como a África do Sul terem implementado algumas das legislações mais rigorosas sobre o uso de clareadores faciais, muitos países da África Ocidental, como Gâmbia, Costa do Marfim e, mais recentemente, Ruanda, proibiram a venda de produtos contendo hidroquinona. No entanto, à medida que os produtos clareadores se tornam mais populares, os desafios enfrentados pelos governos e organizações de saúde aumentam.
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