Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (11), representante da embaixada brasileira na COP30, Ana Rosa de Carvalho Albes, afirmou que o encontro de 2025 em Belém pode marcar a primeira vez em que o termo afrodescendente será oficialmente reconhecido em uma convenção de clima da ONU. Ela substituiu o presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago, que não pôde participar por questões de agenda.
Segundo Ana Rosa, embora avanços nas negociações climáticas demorem a ter efeito concreto, conquistas aparentemente pequenas, como o reconhecimento de termos e demandas históricas, impactam diretamente a vida de populações vulneráveis.
“Sabe que até na declaração que recentemente saiu da convenção de direitos humanos não há um reconhecimento do termo afrodescendente, e é uma oportunidade talvez na convenção de clima desse reconhecimento. São pequenas conquistas que sim têm um efeito concreto na vida das pessoas, só que demora um tempo e é difícil de explicar, mas os próprios movimentos reconhecem como um avanço importante”, afirmou.
O trecho referido está na 5ª carta da presidência da COP 30, “embora a crise climática tenha impactado de forma desproporcional os menos responsáveis pelo problema, essas pessoas demonstram liderança excepcional….Grupos distintos, como os afrodescendentes, transformam territórios em faróis de
criação coletiva, afirmação cultural e resistência”, diz trecho da carta.
A representante destacou ainda duas pautas prioritárias para o movimento indígena brasileiro: o reconhecimento da demarcação de terras como ação climática e a destinação direta de recursos a fundos geridos por povos indígenas e comunidades tradicionais. Essas propostas já constam na Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil, mas ainda enfrentam resistência de países que não possuem populações indígenas.

Durante a coletiva, um jornalista questionou a participação efetiva de povos tradicionais nos espaços de decisão da COP, ressaltando que, apesar de menções nas cartas e acordos, a presença ainda é limitada. Em resposta, Ana Rosa explicou que, por não serem Estados-membros, essas populações não têm assento formal nas negociações, mas a presidência da COP30 vem criando mecanismos para ampliar sua visibilidade.
Entre as iniciativas, ela citou a criação do Círculo dos Povos, a presença de pavilhões indígenas e a possibilidade de falas na reunião de líderes e na própria mesa de negociação. “Na COP de Dubai e do Azerbaijão, pela primeira vez, tivemos uma ministra indígena, Sônia Guajajara, como chefe da delegação, orientando diplomatas. Parece pequeno, mas muda cem por cento a perspectiva”, disse.
Outro tema abordado foi a disparada dos preços de hospedagem em Belém. Ana Rosa confirmou que o governo já questiona judicialmente aumentos abusivos, que chegaram a ser 15 vezes maiores que o valor normal.
A COP30 ocorrerá em novembro de 2025 e deverá reunir líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil. Para Ana Rosa, o evento será uma oportunidade histórica de garantir maior protagonismo a indígenas, comunidades tradicionais e afrodescendentes e de transformar essas pautas em compromissos climáticos de alcance global.
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