Quase 35% dos consumidores negros no Brasil afirmam ter sofrido discriminação ao tentar comprar ou acessar serviços ao longo de 2025. A conclusão é da pesquisa realizada pelos institutos DataRaça e Akatu, que analisaram como empresas tratam a população negra no varejo, no atendimento e na oferta de serviços.
Segundo o levantamento, em 72% dos casos, o racismo acontece de forma sutil, como vigilância excessiva, indiferença no atendimento ou tratamento desigual. A sutileza não diminui o impacto: ela reforça que o racismo no consumo está naturalizado como parte da experiência cotidiana das pessoas negras.

Mesmo representando mais da metade da população e movimentando quase R$ 2 trilhões por ano na economia brasileira, essa presença ainda não se traduz em ganhos de renda proporcionais. Dados do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) mostram que, entre 2012 e 2023, a renda de trabalhadores negros correspondeu, em média, a 58,3% da renda de trabalhadores brancos, um índice que se mantém praticamente estagnado há mais de uma década.
No varejo, especialmente em lojas de moda, supermercados e shoppings, os relatos de constrangimento são mais frequentes. Em muitos casos, consumidores negros relatam ser seguidos por seguranças, ignorados no atendimento ou questionados sobre sua capacidade de pagamento.
Ainda assim, o estudo mostra que a população negra responde com estratégia: mais de um terço dos consumidores negros diz recompensar marcas que demonstram respeito e compromisso com a inclusão racial.
A avaliação positiva das empresas está diretamente ligada à representatividade na comunicação, presença de pessoas negras em campanhas sem estereótipos e ações concretas e não apenas discursos.
Um dado importante revela a dimensão dessa confiança: 85,3% da população negra confia mais nas empresas do que no governo quando o tema é inclusão racial. Já a preocupação central dessa população segue sendo violência e criminalidade, temas que dependem diretamente de políticas públicas do Estado.
O recado do consumidor negro é claro: respeito, representatividade e dignidade não são tendência, são exigência.









