O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denunciou que a retomada da Fazenda Ipuitã pelos Guarani e Kaiowá, na terra Guyraroká, em Caarapó (MS), terminou em mais um episódio de violência nesta segunda-feira (22). Segundo a denúncia, a Tropa de Choque da Polícia Militar atacou os indígenas com balas de borracha, atingindo pelo menos duas pessoas, enquanto ainda havia um acordo em andamento para a retirada de pertences da fazenda. A Funai, solicitada pelos indígenas, não estava presente no momento do despejo.
A retomada foi realizada no domingo (21) com o objetivo de impedir a pulverização de agrotóxicos sobre a comunidade e exigir a conclusão do procedimento de demarcação da Terra Indígena (TI) Guyraroká. Os Guarani e Kaiowá pediram a presença da Coordenação Regional da Funai de Dourados, mas o coordenador Cris Tupan só chegou após o suposto ataque. Sem a mediação federal, a Polícia Militar realizou o despejo sem ordem judicial.
Um indígena relatou ao Cimi que “sem a Funai, a Tropa de Choque se aproveitou que a gente deixou entrar o caminhão para retirar os pertences dos funcionários da fazenda e veio com tudo”. Mesmo despejados, os indígenas exigem que o plantio de soja na área seja interrompido, cobrando uma resposta do proprietário em até 48 horas.
Em mensagens, o coordenador do órgão indigenista, Cris Tupan informou que “a situação foi controlada. Todas as forças policiais foram retiradas do local. O MPI e a Funai estão mobilizados para tratar a questão dos agrotóxicos e fundiária em Dourados. A comunidade entrou em acordo com a Funai e retornou para a aldeia, aguardando decisões da mesa de negociação”.

A pulverização de agrotóxicos é um problema recorrente. Em julho, o Ibama e a Força Nacional, com apoio das polícias Judiciária e Técnico-Científica, apreenderam 202 kg de produtos contrabandeados do Paraguai armazenados em depósitos clandestinos dentro da Fazenda Ipuitã. Autoridades de direitos humanos classificam essas práticas como “ataques químicos”, que já atingiram casas e a escola indígena.
Em 2024, Erileide Guarani Kaiowá denunciou o impacto desses despejos e químicos: “Começou ontem o despejo, às 15 horas, e continuou hoje, às 10 horas. O cheiro é insuportável, um horror. Infelizmente isso se normalizou, só que diferente do amargoso, somos seres humanos”. Ela também relatou intoxicações de crianças e adolescentes em 2019 devido ao contato com agrotóxicos próximos à escola.
O procedimento de demarcação da TI Guyraroká, inicialmente aprovado pela Funai com 11.400 hectares, foi anulado pelo STF em 2011. Atualmente, os Guarani e Kaiowá ocupam apenas 50 hectares, cercados por fazendas, sem espaço para atividades de subsistência. A assessoria jurídica do Cimi recorreu no STF, e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) analisa medida cautelar que busca proteção imediata ao território indígena.
Erileide conclui: “Estamos em um pequeno espaço, sem condições de plantar, sendo pulverizados por agrotóxicos e não há um encaminhamento de demarcar nosso território garantindo o que a Funai já declarou”.
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