CCBB Rio recebe espetáculo “Babilônia Tropical – A Nostalgia do Açúcar”

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Uma viagem no Recife do século XVII, na chegada dos holandeses no nordeste do Brasil, em busca das riquezas do açúcar, esse é o enredo do espetáculo “Babilônia tropical – A Nostalgia do Açúcar”, que fica em cartaz até dia 1º de outubro, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Rio de Janeiro. Será a última peça encenada no espaço, antes das obras de revitalização.

O espetáculo tem idealização do autor e diretor Marcos Damigo, que esteve no CCBB Rio de Janeiro no início de 2020 com “Leopoldina, Independência e Morte”, espetáculo que teve grande sucesso de público e crítica. Em “Babilônia Tropical”, ele aborda as contradições do projeto de modernidade nascente e sua violência nos cruzamentos entre gênero, classe e raça, e as transformações que iriam ditar os rumos do mundo.

Sol Miranda substitui Jamile Cazumbá neste final de semana – Foto Sol Miranda: Divulgação/Jamile Cazumbá: Luisa Palhares

Tais questões são investigadas através da história de Anna Paes, uma controversa mulher que viveu no período e escreveu um bilhete ao aristocrata neerlandês Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar quando ele chegou ao Brasil, e até hoje é guardado no Arquivo Nacional dos Países Baixos.

Segundo o idealizador, dramaturgo e diretor do espetáculo, Marcos Damigo, é de suma importância trazer para o palco a história do Brasil e evocar um passado que insiste em continuar existindo.

“E tem uma potência muito grande em tornar presentes, aqui e agora, os eventos que nos constituem. O interesse do público nesse tipo de obra é uma prova disso. Ao mesmo tempo, é uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar o modo como nos enxergamos e assim, quem sabe, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos”, explica Marcos Damigo. 

Carol Duarte, atriz que dá vida à personagem, reforça que a base da história brasileira foi criada sobre a cultura escravocrata e nesse sentido alguns nomes não podem ser esquecidos.

“Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos extirpar qualquer indício dessa herança escravocrata, recolocando nos devidos lugares os que foram capturados e os que capturam. Hoje, infelizmente, estamos recebendo muitas notícias de empresas com trabalho escravo e, nesta terra, isso não é novidade. Que o teatro possa jogar luz na barbárie que ainda hoje reside no coração do Brasil”, pontua a atriz. 

A obra também traz a fotografia de um cenário dinâmico, que transcende o trabalho, resultando num conjunto de elementos irregulares que caracterizam a precariedade do trabalho e das condições de vida do trabalhador, atentando contra sua dignidade e à negritude majoritariamente.

“Gente, pra quê ressuscitar essa mulher? Deixa ela lá, morta e enterrada”, essa é umas das falas da personagem Milena, ao se referir a Anna Paes.

A peça tem muitas camadas a serem absorvidas, conclui Leonardo Ventura, ator do espetáculo. “Enfrentamos, aqui, a questão central diante do teatro contemporâneo: a chegada de temáticas antes ocultas ou apagadas que demandam novos engendramentos, tanto de relações formais, quanto de relações profissionais e pessoais”.

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O Brasil é um país formado, desde o período colonial, por pessoas negras, mas com histórias desenhadas por brancos que submeteram essas pessoas aos mais danosos traumas. A peça traz uma releitura de como a escravização de pessoas negras moldou a imagem do país. 

“A imagem de um país e de uma nação é moldada ao longo de gerações, é uma ideia muito bem trabalhada e com muitos contornos. A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui questionamos não só os reconhecimentos em si, como também seus privilégios e barreiras que precisam ser superadas para se estar em outro lugar”, analisa o produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini.

SERVIÇO 

Temporada | de 30 de agosto a 01 de outubro de 2023 

Horário | de quarta a sábado, às 19h / domingo às 18h 

Local | Teatro I  | CCBB RJ

Endereço | R. Primeiro de Março, 66 – Centro, Rio de Janeiro – RJ, 20010-000

Capacidade do teatro | 172 lugares (sendo 06 espaços para PMR e PCD e 06 para acompanhantes) 

Classificação indicativa |14 anos 

Duração | 84min

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