Brasil aplica mais agrotóxicos do que EUA e China juntos, indica agência da ONU

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O Brasil usou 719,5 mil toneladas de agrotóxicos nas suas lavouras em 2021, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O relatório mostra que o país usou mais agrotóxicos do que os Estados Unidos e a China juntos, além de também ser o país que mais importou agrotóxico no período.

Os Estados Unidos aplicaram 457 mil toneladas de agrotóxicos nas suas lavouras, a Indonésia usou 283 mil toneladas, e a China utilizou 244 mil toneladas. Estados Unidos e China que juntos possuem aproximadamente 1,7 bilhões de habitantes, e utilizaram 701 mil toneladas, enquanto o Brasil utilizou 719,5 mil toneladas.

Pulverização de agrotóxicos em plantação brasileira – Foto: Cenipa/Divulgação

De acordo com Agência Senado, em 2023 o presidente Lula sancionou a Lei 14.785, de 2023 que encurta prazos e modifica regras para aprovação e comercialização de agrotóxicos, substâncias usadas para o controle de pragas e de doenças em plantações. Mas a aprovação ocorreu com vetos, entre os 17 dispositivos vetados estão os que dariam ao Ministério da Agricultura a competência exclusiva para registros de pesticidas, produtos de controle ambiental e afins.

Anita explica que as formas de acometimento ao organismo são diversas, e muitas ainda não foram estudadas. “Além do risco de câncer do sistema hematopoético (ex: linfomas) há acometimento de glândulas como a tireoide, cerebral e modificações de DNA, o que torna o uso de agrotóxico um risco para a saúde humana“, diz a médica.

O Brasil usou no período 10,9kg de agrotóxicos por hectare de lavoura (10 mil m²), enquanto os EUA usaram 2,85kg/ha, já a china 1,9 kg/ha. Os números são o equivalente a 3,3kg de agrotóxico por pessoa no Brasil, nos Estados Unidos são 1,36kg por pessoa e na China 0,17kg. Além disso o uso de agrotóxicos aumentou 1.300% em 31 anos no Brasil.

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“Os agrotóxicos podem causar diversas formas de adoecimento, sendo mais comum em populações diretamente expostas ao produto, como trabalhadores rurais. Exemplos de intoxicação por agrotóxicos, chamados de organofosforados são: salivação, lacrimejamento, redução da frequência cardíaca, espasmos dos brônquios pulmonares (simulando uma asma), incontinência urinária”, aponta Anita.

A médica explica que, além desses sintomas citados, os indivíduos afetados podem apresentar dores de cabeça, náuseas e dor de estômago, além de dor lombar, dor ao urinar e diagnóstico médico de gastrite/epigastralgia, depressão, ansiedade, mialgia, irritabilidade e cólicas abdominais. Além disso, a exposição prolongada de agrotóxicos se manifestam com danos nos seus mecanismos de defesa celular e alterações nas atividades de telômeros, transtornos mentais, doença do tabaco e sibilância.

Ela alerta também para alguns tipos de câncer, “como câncer no cérebro, linfoma não-Hodgkin, melanoma cutâneo, câncer no sistema digestivo, sistemas genitais masculino e feminino, sistema urinário, sistema respiratório, câncer de mama e câncer de esôfago podem ter relação com exposição a agrotóxicos”, frisou.

Busca por alimentos com menos agrotóxicos

De acordo com pesquisa da Oxfam em 2019, 1% dos proprietários de terras é dono de 45% de todas as terras agricultáveis do Brasil. Médica Generalista formada pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio), Anita Dias, fala sobre o quão prejudicial é o uso de agrotóxicos, e a relação do uso com a reforma agrária, já que a médica aponta que o uso abundante de agrotóxicos faz com que muitos consumidores busquem alimentos orgânicos, agroecológicos, de pequenos produtores e da agricultura familiar.

Ela entende que com a reforma agrária, haveria maior valorização de pequenos produtores, e consequentemente, maior distribuição de alimentos sem agrotóxicos.

“Sendo assim, a questão da reforma agrária ganha mais importância pois a maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento já realizou a sua reforma agrária, o que levou muitos deles à redução das desigualdades, melhor distribuição de terra e, consequentemente, ampliação da produção de pequenos produtores”, disse.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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